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Análise / Conjuntura

'Superciclo' no preço das commodities pode estar no fim

PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Conforme noticiado pela Folha na quinta, o indicador CRB, usado para sintetizar o movimento de preços de várias commodities no mercado mundial, acumulou queda de 8% no fim de abril ante o fim de 2011, representando o menor nível em 20 meses.

Esse resultado pode ser interpretado como indicação do fim do que vem sendo chamado de um "superciclo" nos preços das commodities.

Olhando para o caso específico do setor de metais, em que o minério de ferro interessa particularmente ao Brasil, podemos avaliar o desempenho histórico de acordo com o índice calculado pelo FMI, que pode ser visto no gráfico.

O "superciclo" fica evidente com o rápido aumento a partir de 2005, sendo interrompido pela crise de 2008, mas retomando a trajetória ascendente a partir de 2009.

A partir do final de 2011, temos outra forte reversão para baixo, resultando em queda de 18,6% quando comparamos abril de 2012 com o mesmo mês do ano anterior.

Por analogia ao comportamento da crise de 2008, uma primeira reação atribui essa nova queda à crise, desta vez com epicentro na Europa, ampliada nos últimos meses.

Ainda que esse seja um aspecto fundamental da dinâmica recente dos prelos mundiais de commodities, outro fator desempenha um papel no mínimo igualmente relevante e que muda a análise do ponto de vista qualitativo.

A China responde por aproximadamente 75% do crescimento da demanda projetada para o minério de ferro nos próximos anos e 40% do total da demanda mundial atual por minérios em geral.

Apesar de a economia chinesa continuar crescendo a taxas muito superiores às das economias centrais, as projeções mais recentes vão no sentido de uma redução desse ritmo de crescimento.

O impacto dessa redução no crescimento da demanda deverá ocorrer com a elevação da oferta, motivada por investimentos dos países produtores, atraídos pelo aumento de rentabilidade dos últimos anos.

O assunto é particularmente importante para o Brasil, cujas receitas de exportação tornaram-se muito dependentes de um grupo de commodities em que o minério de ferro merece destaque.

O consumo chinês e das economias centrais em um cenário pós-crise continuará garantindo demanda forte por matérias-primas em geral, mas a trajetória dos preços no futuro provavelmente indicará redução na tendência do ritmo de aumento.

A retomada de preços nos próximos anos não deverá manter a tendência observada nesses anos que caracterizaram a fase ascendente do "superciclo".

PAULO PICCHETTI, doutor em economia pela Universidade de Illinois (EUA), é professor da EESP/FGV e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV.

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