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Análise pecuária

Modelo de comercialização de animais é inescrupuloso e cruel

PAULO DE CASTRO MARQUES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O pecuarista investe em genética, buscando touros melhoradores ou sêmen de alta qualidade e incorporando matrizes de alto padrão.

Dois anos depois, no mínimo, tem animais prontos para abate ou para iniciar testes zootécnicos e se tornarem reprodutores. Se não forem aprovados nessas avaliações, também vão para o abate.

No momento da venda dos animais -aqueles mesmos que receberam manejo, suplementação mineral, medicamentos e cuidados até então-, o produtor se defronta com um modelo de comercialização inescrupuloso e cruel.

Primeiro, porque todo o investimento feito pouco ou nada interfere no preço pago pelo frigorífico. Afinal, num mercado em que o padrão é o quanto pesa (e não o quanto vale), a genética diferenciada, que proporciona animais mais jovens e com carne mais macia, recebe praticamente a mesma remuneração do gado criado solto, só alimentado com capim e sal grosso, com no mínimo o dobro da idade e carne dura.

Além disso, se naquela semana as escalas dos poucos frigoríficos da região estiverem formadas, o gado pode ser ainda mais depreciado. No final das contas, o balanço pode ser negativo.

Poucos discordam de que esse modelo é injusto aos pecuaristas. Eles fazem todo o investimento e no momento da venda ficam à mercê dos compradores. Culpa da indústria? Em parte sim, mas também é preciso olhar para o próprio umbigo. É preciso mudar.

A boa notícia é que isso acontece aos poucos. Os produtores reconhecem que precisam oferecer gado uniforme, jovem, com bom acabamento de gordura, carcaças prontas e maciez. E continuam investindo para elevar o padrão de qualidade.

Alguns frigoríficos também já perceberam que não adianta tratar todos iguais e criam programas de fomento, com bonificações de até 10% para diferenciar os pecuaristas que deram passos rumo à maior produtividade.

Na análise fria dos números, não se pode admitir que animais de boa genética recebam a mesma remuneração que outros sem garantia de origem.

PAULO DE CASTRO MARQUES, empresário e pecuarista, é proprietário da Casa Branca Agropastoril e presidente da Associação Brasileira de Angus.

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