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Vinicius Torres Freire

Conjunção astral dos infernos

Notícias ruins sobre EUA, China, Brasil e Europa dão susto, mas risco de estouro mesmo está na Espanha

SEXTA-FEIRA foi um daqueles dias de manchetes fáceis para nós, jornalistas. Havia notícias ruins de toda parte e todas aparentemente podiam ser jogadas num balde só: o mundo econômico se esboroa.

Parecia uma conjunção astral do gosto do demo. Menos empregos nos EUA. O Brasil cresce nada. A indústria da China parece parar. O governo conservador britânico parece cada vez mais bem-sucedido em sua política de asfixiar o país. A Europa brinca de roleta-russa pela quarta vez desde a grande crise de 2008.

Isso para ficar nos casos maiores.

Mas quantas novidades havia no jorro de informações ruins da sexta? A notícia (novidade) relevante mesmo não era lá muito "pop": trata-se da enrolação espanhola e europeia a respeito do que fazer de um (uns?) banco espanhol quebrado.

A reação extremamente negativa aos números ruins do emprego nos EUA em parte se deve ao exagero de quem dizia que a economia deles se recuperara de vez (erro que vem sendo cometido faz quatro anos).

Além de agora obviamente prejudicada pela baderna europeia, a recuperação americana é capenga.

O salário real médio cai ano após ano. Metade da queda do desemprego desde o pico da crise se deveu a desalento ou aposentadorias. Cada vez mais gente tem emprego precário. As empresas lucram porque contratam pouco, pagam mal e seguram investimentos. O mercado imobiliário ainda vive nas profundas de uma depressão. Todo mundo se pergunta o que será das reduções de impostos que vencem no ano que vem. Recuperação firme?

Números ruins na China são sempre tão assustadores quanto difíceis de entender. Para resumir a história, muita gente acha que a economia chinesa apenas faz um "pouso suave" (o crescimento cai da casa de uns 9% para a de uns 7,5%).

Mas há gente séria, embora por ora um tanto extravagante, para quem a China pode descer ao ritmo de 5% ao ano, "crise" lá. De menos incerto e mais relevante foi que o governo chinês como que avisou ao mundo que não fará um pacotão de estímulo econômico como o de 2008, que ajudou a evitar o pior.

Quanto ao Brasil, nós fomos para as cabeças das manchetes mundiais de sexta por "contágio noticioso", pois o mundo ainda é muito ignorante sobre o que se passa aqui, tendo prestado mais atenção ao país devido à conjunção de más novas (ou más velhas) da sexta-feira. Nós estávamos cansados de saber que vamos devagar quase parando.

É claro que não sobrará ninguém para atirar uma corda no fundo do poço se todas as maiores economias entrarem simultaneamente em compasso de cágado. Ruim, mas ainda assim não há grande novidade aí.

De novo e urgente temos a Espanha. O dinheiro foge aos borbotões do país, em recessão cada vez mais profunda e à beira do colapso bancário, que vai causar pandemônio mundial se de fato acontecer.

Os espanhóis não têm dinheiro para cobrir o rombo de seus bancos. Querem ajuda incondicional da União Europeia. Alemanha, União Europeia e Banco Central Europeu dizem, por enquanto, "não vem que não tem": sem supervisão externa, sem socorro. Enquanto UE, Alemanha e BCE discutem com a Espanha, o pânico esfria o planeta, como em maio de 2010, maio de 2011 e setembro de 2011, ocasiões em que a Europa brincou à beira do abismo.

vinit@uol.com.br

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