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Juro baixo e custo alto adiam plano de previdência privada

Queda nas taxas pode ampliar tempo de contribuição por mais de 15 anos

Para professor da USP, beneficiários deverão buscar redução nas taxas de administração ou assumir mais risco

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

No menor patamar da história, os juros brasileiros podem ter como efeito colateral o adiamento da aposentadoria, especialmente para quem tem plano de previdência privada com taxas elevadas de administração -percentual cobrado pelo banco para cuidar do dinheiro do cliente.

Somente a mudança no patamar de juros ocorrida neste ano, quando as taxas do governo caíram de 11% para 8,5% ao ano, pode implicar mais de 15 anos de trabalho (e de contribuições extras ao plano de previdência), segundo simulação feita por Rafael Paschoarelli, professor de finanças da USP (ver pág. B4).

Isso porque os juros do governo caíram, mas a previsão de inflação segue elevada.

Na previdência privada, o que conta são os juros reais, que desconta a inflação. Em janeiro, a taxa real estava em 5,5% (11% da Selic menos 5,5% da inflação). Agora, caiu para 3,5% (8,5% menos 5%).

Desse rendimento real, deve-se descontar ainda a taxa de administração cobrada pelo banco. A maioria cobra entre 1% e 1,5% ao ano nos fundos conservadores que aplicam em juros do governo.

UMA DÉCADA E MEIA

Na simulação, Paschoarelli considerou o caso de um profissional de classe média, na casa de 30 anos, que já tenha acumulado R$ 100 mil na previdência privada e planeja fazer aportes mensais de R$ 1.000 pelos próximos 25 anos.

No começo do ano, essa pessoa poderia se dar ao luxo de ter um fundo de previdência com taxa de administração de 1,5% (cobrada pela maioria dos bancos) e ainda juntar o suficiente para completar a renda do INSS com R$ 3.670,13 por mês durante 30 anos após se aposentar.

Agora, esse profissional terá de trabalhar mais 197 meses (16,4 anos) para receber o mesmo valor daqui a 25 anos, se contentar com somente R$ 2.035 mensais ou elevar a contribuição mensal de R$ 1.000 para R$ 2.145.

E isso já contando que a inflação deve recuar um pouco nos próximos anos, para permitir uma taxa real média de 3,5% ao longo desses 25 anos.

"Isso é uma tragédia para essa pessoa. Ela não terá saída além de compensar a queda nos juros com uma taxa de administração consideravelmente menor. Ou vai ter de assumir um risco maior na Bolsa para elevar o ganho."

Na avaliação do professor, a discussão sobre o impacto das taxas de administração, que ganhou força depois da alteração da poupança, ainda não chegou à previdência privada como deveria.

"Está em jogo a aposentadoria de várias gerações, que não terão como se custear."

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