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Depoimento

'Seu' Natan vendia joias em casa à prestação

DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Lembro-me bem de "seu" Natan, como ele era conhecido. Em 1954, eu era recém-casada e ele vinha regularmente à minha casa, trazendo uma pequena maleta com algumas joias.

Eram modestas: pulseiras, brincos, anéis de ouro.

Apresentava sua mercadoria e fazia o que, para mim, parecia um milagre: parcelava. Em 3 meses, 6, 12, como eu quisesse, e nunca ouvi de sua boca a palavra juros.

Todos os meses, ele telefonava, vinha receber o que eu devia, aproveitava e abria a maleta com novas peças, insistindo para que eu levasse alguma coisa a mais -e eu levava, claro.

Nós nos vimos por três ou quatro anos. "Seu" Natan era cortês no trato e tão modesto quanto as joias que vendia. Mais que modesto, era humilde.

Usava bigode e seus olhos eram azuis e tristes, a tristeza dos que vêm de longe para começar a vida em outras terras.

Por esses acasos da vida, nunca mais nos vimos: não costumo comprar joias e, quando ouvi falar do sucesso da joalheria Natan, fiquei curiosa; seria o mesmo "seu" Natan? Soube que era ele, sim.

"Seu" Natan venceu; venceu e durante décadas foi dono de uma das grandes joalherias do Rio.

E, apesar dos problemas que sua empresa enfrenta, na minha memória ele será sempre aquele "seu" Natan, tão gentil e tão persuasivo, fazendo-me sempre comprar alguma coisa de que não precisava, mas que me fazia muito feliz.

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