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Para BC, Cruzeiro do Sul era 'lavanderia'

À Justiça Banco Central defendeu há dois anos que houvesse punição e aplicou multa de R$ 200 mil; instituição recorre

Cruzeiro do Sul alega que não havia motivo para desconfiar de clientes de um fundo criado em 2001

ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA

Dois anos antes de decretar intervenção no Cruzeiro do Sul, o Banco Central informou à Justiça que a instituição havia se tornado "grande 'lavanderia' de dinheiro das mais diversas origens e de forma premeditada".

À Justiça o BC defendeu punição ao Cruzeiro do Sul por ter deixado de informar movimentação atípica de dinheiro ao Coaf, órgão de inteligência da Fazenda. A defesa do BC é assinada pela procuradoria do órgão.

O Cruzeiro do Sul alega que seguiu a política do "conheça seus clientes" e que não tinha por que desconfiar deles.

Para o BC, o banco foi "complacente com operações que podem estar relacionadas a atividades criminosas".

As movimentações atípicas se deram por meio do Clube Alta Liquidez, fundo de investimento criado em 2001 -o Cruzeiro do Sul mantinha suas quatro contas.

O banco tenta anular na Justiça uma multa de R$ 200 mil aplicada na esfera administrativa pelo BC.

O valor é o teto a ser aplicado em casos como esse, considerado infração grave no mercado financeiro.

Atualmente, o processo está no Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª região.

Foi em uma fiscalização de rotina que o BC descobriu que cotistas do Clube Alta Liquidez não tinham condições financeiras para fazer as aplicações registradas.

Segundo documentos aos quais a Folha teve acesso, entre os fundadores do fundo estavam um ajudante de serviços gerais, que ganhava salário mínimo à época, e um empregado que recebia R$ 800 na ocasião.

BRANQUEAMENTO

Para o Banco Central, o fundo foi constituído "com o objetivo claro de acobertar movimentação financeira de interesse de terceiros, visando lavagem/branqueamento de dinheiro".

Isso porque a maior parte do dinheiro aplicado no clube não era investida no mercado financeiro. Os recursos eram transferidos para contas de pessoas físicas e a quatro agências de viagens.

Em apenas um mês (agosto de 2001), foram depositados R$ 26,6 milhões no fundo de investimento investigado. Desse total, somente R$ 1,7 milhão foi aplicado de fato no mercado financeiro.

Com base nas apurações, o BC definiu uma punição ao controlador do Cruzeiro do Sul ao considerar que ele tinha conhecimento das irregularidades e que cometeu uma infração grave ao não informá-las.

Em trecho do documento, apontou "flagrante centralização de todos os negócios nas mãos dos diretores-executivos Luís Octávio e Luís Felippe Índio da Costa".

De acordo com a fiscalização do BC, foi constatada ausência de procedimentos formais para prevenir lavagem de dinheiro.

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