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Cifras & Letras CRÍTICA / geopolítica Ameaça chinesa põe à prova poder de reinvenção dos EUA Obra 'patriótica' defende sacrifícios que resgatem a grandeza americana AO SABER QUE A CHINA TINHA O COMPUTADOR MAIS RÁPIDO DO PLANETA, OBAMA COMENTOU: 'ASSIM ÉRAMOS NÓS'
ESPECIAL PARA A FOLHA Maior potência do mundo, os Estados Unidos estão mergulhados numa profunda crise econômica da qual não sairão, em tempo de manter a liderança, sem boa dose de sacrifício. O alerta é de Thomas Friedman e Michael Mandelbaum em "Éramos Nós". Friedman é a estrela da dupla. Premiado colunista do "The New York Times", é autor do best-seller de 2005 "O Mundo É Plano", no qual esboça ideias agora retomadas. Mandelnaum, da Universidade Johns Hopkins, dá peso acadêmico ao trabalho. No espectro ideológico dos EUA, ambos são de centro-esquerda. É dessa perspectiva que criticam o presidente Barack Obama, que teria perdido a oportunidade gerada pela crise de provocar mudanças que eles propugnam. Como indica o subtítulo -"A Crise Americana e como Resolvê-la"-, a obra defende um diagnóstico e uma receita para a cura da enfermidade econômica e política que afeta o país. Quanto ao diagnóstico, os autores recuam para um período anterior ao estouro da bolha imobiliária, em 2007. Para eles, a origem da crise está no fim do comunismo no início dos anos 90, que acelerou a globalização, abrindo caminho para que mais de 2 bilhões de pessoas consumissem como os americanos. Por que isso seria ruim para os EUA? Porque o país não se preparou para a nova realidade, argumentam os autores. Os EUA, dizem, perderam tempo acreditando erroneamente que a China repetiria a história do Japão, que nos anos 80 ameaçou com seu crescimento e depois decaiu. A China, no entanto, é diferente. Não é só potência econômica, mas também tecnológica. Em 2010, ao saber que o país asiático tinha o supercomputador mais rápido do planeta, Obama comentou: "Assim éramos nós". A frase dá o título e a chave do livro. "Patriotas legítimos", como se autodefinem, Friedman e Mandelbaum advogam preservar a "grandeza americana", mas dizem isso sem arrogância, certos de que o declínio do país não faria bem ao mundo. RECEITA A China, sempre citada como futuro poder hegemônico, tem problemas graves, como falta de liberdade, corrupção generalizada, poluição e um sistema educacional que sufoca a criatividade. O que faz diferença, afirmam os autores, é a eficiência: enquanto a China obtém 90% dos benefícios potenciais de seu sistema político de "segunda classe", os EUA obtêm 50% dos benefícios de um sistema "de primeira". O que fazer? Para Friedman e Mandelbaum, a receita inclui quatro desafios: adaptar-se à globalização, ajustar-se à revolução da tecnologia da informação, reduzir o deficit orçamentário e lidar com ameaças ambientais. Tudo isso exige sacrifícios. Cortar o deficit significa "pagar mais impostos e receber menos serviços". Quanto à questão ambiental, eles propõem um aumento substancial dos preços dos combustíveis fósseis, para que reflitam "o verdadeiro custo de seu consumo à sociedade". Tal medida, ao viabilizar fontes renováveis de energia, beneficiaria "o país e o planeta". Friedman e Mandelbaum, entretanto, têm consciência da dificuldade política de aprovar propostas dessa natureza. Como estratégia para promover tais guinadas, eles sugerem uma candidatura independente à Presidência, que, mesmo derrotada, teria o condão de fazer democratas e republicanos, numa tentativa de conquistar aqueles eleitores, gravitarem para posições mais progressistas. É uma ideia tão criativa quanto pouco exequível. Se a bússola dos autores aponta a direção correta, o mapa que oferecem não mostra caminhos seguros para contornar os obstáculos. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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