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Finanças Pessoais

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Preserve sua poupança antiga, um tesouro nos tempos atuais

A caderneta de poupança continua sendo a preferida dos brasileiros. Para investir, basta depositar o dinheiro e os juros começam a ser devidos. Quando precisamos do dinheiro de volta, basta sacá-lo da conta.

A simplicidade operacional, aliada à percepção de segurança do investidor, pode justificar a preferência pela poupança em relação a outras alternativas de investimento. Além disso, é o único produto do mercado isento da cobrança de taxas bancárias e do Imposto de Renda sobre os rendimentos creditados às pessoas físicas.

De acordo com dados do Banco Central, durante maio o montante de depósitos superou o de saques em R$ 6,262 bilhões. Esse saldo positivo de captação é resultado de R$ 105,776 bilhões de depósitos e R$ 99,514 bilhões de retiradas. E foi exatamente a quantidade de dinheiro retirada das contas que chamou minha atenção.

Sabemos que a poupança ganhou novas regras a partir de 4 de maio. Os saldos existentes em 3 de maio continuam recebendo a rentabilidade de 0,5% ao mês mais a variação da TR, qualquer que seja a taxa de juros básica da economia.

Para os depósitos feitos a partir de 4 de maio, a rentabilidade está limitada a 70% da taxa Selic vigente, sempre que essa taxa for igual ou inferior a 8,5% ao ano. Sendo assim, muitos investidores têm agora duas contas-poupança que pagam rendimentos diferentes.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central reduziu a taxa básica de juros para 8,5% ao ano na sua última reunião. Assim, foi acionado pela primeira vez o "gatilho" que reduz o rendimento dos depósitos feitos a partir de 4 de maio.

A Selic mensal equivalente a 8,5% ao ano é de 0,68% ao mês - 70% desse valor é 0,48% ao mês. Essa será, aproximadamente, a rentabilidade dos novos depósitos. O saldo preexistente em 3 de maio receberá juros de 0,5%. A TR continua para ambos os casos, mas seu valor se aproxima de zero.

DE ONDE SACAR?

Quando precisamos de dinheiro, de que conta devemos sacar? Nosso interesse é contrário ao dos bancos e devemos sacar da conta que oferece menor rentabilidade, ou seja, das contas que receberam depósitos feitos a partir de 4 de maio e que terão a rentabilidade reduzida.

Procure preservar o saldo da conta antiga pelo maior tempo possível já que, sobre ele, permanece o pagamento de juros de 0,5% ao mês além da TR.

Se você sacar uma certa quantia de dinheiro da poupança antiga e voltar a depositar poucos dias depois, esse novo depósito será feito na nova conta, com as novas regras de remuneração, e não poderá voltar para a conta antiga, de onde saiu.

A simplicidade operacional que mencionamos no início exige, nesse caso, um momento de atenção do investidor. Compete a ele escolher de que conta será retirada a quantia de dinheiro de que necessita.

Em alguns produtos, como os fundos de investimento, por exemplo, as instituições financeiras controlam automaticamente que resgate será mais favorável ao investidor, ou seja, aquele sujeito ao pagamento do menor IR.

Na poupança, será do investidor a escolha de sacar da conta nova ou da antiga.

Embora seja a melhor estratégia, nem sempre o investidor poderá manter o dinheiro na poupança e retirará todo ou parte do saldo para cobrir suas despesas.

Sendo assim, para preservar a vantagem de continuar recebendo a rentabilidade bastante vantajosa das contas antigas, precisamos administrar de forma eficiente nosso orçamento familiar. Não será tarefa fácil para milhões de aplicadores.

DESAFIO

De acordo com o último censo do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), 78% das contas de poupança possuíam saldo de até R$ 2.000.

Para essa população de pequenos investidores, estimada em cerca de 78 milhões de pessoas, será um desafio ajustar o orçamento para evitar os saques na poupança antiga.

Desafio menor terão cerca de 7.000 investidores privilegiados que possuem saldo superior a R$ 1 milhão depositados na poupança.

É provável que possam se beneficiar, por muito mais tempo, dos juros de 0,5% ao mês que continuam sendo pagos sobre o saldo preexistente.

Em ambos os casos, pequenos e grandes investidores, a melhor opção é evitar -ou adiar o máximo possível- os saques da poupança antiga no atual cenário de redução da taxa Selic. A oportunidade é para todos -pena que poucos poderão aproveitar.

Dicas que valem dinheiro

1 - Não utilize crédito bancário para evitar saques na caderneta de poupança. A taxa de juros dos empréstimos continua muito elevada e seu saldo de juros será negativo, ou seja, o montante de juros a pagar será superior ao de juros a receber.

2 - Aproveite para implementar ou aprimorar seu orçamento. O controle consciente e eficaz de suas despesas será fundamental para se beneficiar da oportunidade de ampliar seus rendimentos.

3 - Se não for possível manter o dinheiro aplicado, recomponha suas economias assim que possível. E saiba que, mesmo reduzida, a rentabilidade da poupança, principalmente para investidores de pequeno e médio portes, é superior à rentabilidade líquida (após deduzidos custos e impostos) de outras alternativas de investimento.

4 - Se a taxa Selic for reduzida outras vezes e atingir patamares inferiores ao atual, maior será a vantagem da poupança antiga em relação a fundos de investimento, a aplicações em CDB (Certificado de Depósito Bancário) e em títulos públicos, por exemplo.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

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