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Entrevista Glen Arnold

Investidor de sucesso não joga nem tenta prever rumo da Bolsa

Cérebros financeiros se interessam em conhecer funcionamento das empresas e não temem contrariar consenso do mercado

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

O que têm em comum os megainvestidores Warren Buffet, George Soros, Philip Fisher e Benjamin Graham?

Segundo o professor de finanças britânico Glen Arnold, da Universidade Salford, todos eles têm muita vontade de fazer dinheiro, além de conhecimento técnico das empresas em que investem (não só das perspectivas das ações) e controle das emoções para evitar decisões estúpidas em época de crise. Colaborador do "Financial Times", Arnold está lançando no Brasil o livro "Os Grandes Investidores" (Saraiva). Leia trechos da entrevista à Folha.

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Folha - Como surgiu a ideia de escrever esse livro?

Glen Arnold - Percebi que os princípios de gestão de investimento ensinados nas escolas de negócio eram de uso limitado e que os melhores investidores do mundo raramente falavam sobre seu trabalho. É revelador descobrir o que de fato eles enfatizam em suas análises. E que, apesar de diferentes backgrounds, eles tendem a olhar as mesmas coisas.

Por exemplo?

Eles analisam negócios e não tentam adivinhar para onde estão indo os papéis. Para fazer isso, é preciso se interessar pelos problemas das empresas e saber como as coisas funcionam. Precisa ter vontade de investigar, de questionar os gestores e de ler os jornais de economia.

Após décadas de experiência, eles sabem que não é possível prever movimentos de mercado de curto prazo.

Mas como eles evitam ser traídos por erros de avaliação?

Esses investidores têm metas realistas, como não obter um aumento de ganho descomunal, mas acumular capital por não fazer algo estúpido. Sempre trabalham com alguma margem de segurança.

Eles evitam comprar uma companhia com preço apenas aceitável. Nessas avaliações, sabem que podem ser otimistas demais ou que o cenário previsto pode se deteriorar de forma não imaginada. Também contam que podem ter julgado errado a competência e a integridade dos gestores ou que podem ter esquecido algo importante na contabilidade. Desconfiam das pessoas que dizem saber com precisão quanto custa uma ação porque sabem que esse valor depende do que vai acontecer no futuro. E ninguém pode ser absolutamente preciso com o que ainda não aconteceu.

Eles têm características psicológicas ou mania em comum?

São pessoas que pensam de forma independente, que não se influenciam por consensos do mercado e que estão preparadas para agir de uma forma completamente não convencional.

Também têm grande capacidade de trabalho. Gastam tempo para ver o que dizem os clientes, fornecedores, concorrentes e empregados. Têm habilidade de tomar decisão mesmo com informações incompletas.

Têm paciência, persistência e perseverança.

Se as ações caírem logo após a compra, se surgirem dúvidas, mas se você fez a lição de casa, então a queda nos preços é uma boa notícia. É o momento de comprar mais por um preço menor.

Para eles, o que é mais importante: ganhar ou evitar erros?

Evitar erros. Warren Buffett diz que a primeira regra é não perder dinheiro. A segunda é não esquecer a primeira.

Como eles controlam as emoções em tempos de crise?

Grandes investidores têm um senso impressionante de história, assim conseguem colocar em perspectiva qualquer problema atual. Sabem que a economia se recupera, que a inovação e a invenção continuarão, e que governos sensíveis vão deixar as empresas livres para produzirem aumento de renda.

Por outro lado, o que a crise faz é deprimir os especuladores e investidores pouco focados, que reagem aos estímulos. Quando as ações caem abrem oportunidades incríveis de ganhar dinheiro.

Qualquer um pode se tornar um deles?

São necessários princípios sólidos e força emocional para evitar erros. E isso pode ser feito por qualquer um.

Qual seria o maior investidor de todos os tempos se tivesse que escolher apenas um?

Warren Buffett. Mas ele sempre admitiu que seu conhecimento está apoiado nos ombros de gigantes.

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