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Finanças Pessoais

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Não se deixe enganar; título de capitalização não é investimento

Uma pesquisa sobre os hábitos de investimento dos brasileiros revelou que 49,9% das pessoas com renda mensal superior a R$ 4.000 escolhem a caderneta de poupança como principal produto de investimento.

Até aqui nenhuma surpresa. Produto bastante disseminado, rentabilidade padrão em todos os bancos, simplicidade operacional, isenção do Imposto de Renda e do pagamento de taxas são características que justificam a preferência popular.

Em segundo lugar, preferido por 15,8% do público pesquisado nessa faixa de renda, aparece o título de capitalização. Me surpreende que tanta gente compre esse produto e me preocupa que seja percebido como produto de investimento.

Não se engane e nem se deixe enganar. Título de capitalização não é investimento!

O produto, de acordo com suas características, pode ser classificado como jogo. Jogo e nada mais. E, como tal, deve ser encarado pelas pessoas que o compram, acreditando na sorte e esperança de serem premiados.

As justificativas apresentadas, quando indagados sobre as razões da escolha, deixam claro que os investidores têm pouco conhecimento sobre os verdadeiros "atributos" do produto.

A "possibilidade de resgate antes do prazo", citada como vantagem do produto, é permitida, depois de cumprida determinada carência, mas é demasiadamente punitiva.

Existem inúmeras alternativas de investimento que oferecem liquidez diária, semanal ou mensal, que remuneram o investidor pelo prazo decorrido da aplicação, sem nenhuma punição. Você não precisa pagar um preço tão alto pela sua liquidez.

"Tradição do banco", outra razão mencionada pelos entrevistados, sugere o entendimento equivocado de que se trata de um depósito remunerado em banco, como a poupança ou o CDB.

Os títulos de capitalização são emitidos por sociedades de capitalização, ligadas ou não a instituições financeiras, e não contam com nenhum tipo de garantia.

"Valor remunerado corretamente", outra vantagem apontada pelos compradores, é, sem dúvida, o principal erro de entendimento em relação ao produto.

Além de baixa, a remuneração incide somente sobre parte do valor depositado mensalmente, a chamada "cota de capitalização", que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) determina que seja de, no mínimo, 70% do valor do pagamento.

Parte do dinheiro depositado vai para a "cota de sorteio" para custear os prêmios distribuídos e outra parte, a "cota de carregamento", remunera as despesas administrativas do produto.

Veja como é a distribuição de um título com pagamento mensal de R$ 100. A "cota de capitalização" é de 75%, ou R$ 75; a "cota de sorteio" é de 15%, ou R$ 15; a "cota de carregamento" é de 10%, ou R$ 10.

Antes de comprar, leia atentamente o prospecto do produto para conhecer as regras do jogo do título que lhe foi oferecido.

BOM, ÓTIMO E PÉSSIMO

Moral da história: como uma boa parte do seu dinheiro ficou pelo caminho, é bem provável que você receba de volta, daqui a alguns anos, somente o dinheiro que depositou, sem nenhuma remuneração.

Bom para os poucos que forem sorteados. Ótimo para a empresa que vendeu o produto. Péssimo para quem pretendia "investir" dinheiro.

"Trata-se de um investimento para ajudar o gerente", foi outra razão apresentada para a compra de título de capitalização. E essa justificativa lamentável é resultante de um conjunto de erros, patrocinados por três personagens distintos.

Erram as instituições financeiras, que colocam demasiada pressão sobre os agentes comerciais, obrigados a vender uma quantidade mínima do produto todos os meses. Com isso, colocam o foco no produto -e não nos interesses de seus clientes, como apregoam.

Erram os agentes comerciais, que apresentam o produto ao cliente com argumentos equivocados, induzindo-o a uma decisão de compra também equivocada. A esses, recomendo que ofereçam o produto tal como ele é: concorra a prêmios e receba o dinheiro da aposta de volta caso não seja sorteado.

E não se complique ainda mais, comprometendo sua conduta ética e profissional, ao condicionar a compra de um título de capitalização para aprovar a concessão de outro produto solicitado pelo cliente. Além de antiética, "venda casada" é proibida.

Erram os clientes, que priorizam o interesse de terceiros aos seus próprios interesses.

Será que o orçamento das pessoas que compram título de capitalização está tão folgado que permite a compra somente para ajudar o gerente? Que projeto pessoal poderia ser alcançado com a destinação correta desses recursos?

Ajude a si mesmo, zelando mais pelo seu dinheiro, para construir um patrimônio sólido e sustentável. Você é a prioridade.

MARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

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