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'Pessimismo empresarial trava retomada'

BNDES completa 60 anos num momento em que o país tem toda a condição para voltar a investir, diz Luciano Coutinho

Presidente do banco diz que câmbio valorizado abateu a indústria e que governo vai atacar os 'custos sistêmicos'

VALDO CRUZ
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EDITORA DE “MERCADO”

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, comemora o fato de não estar mais "solitário" na defesa de uma taxa cambial competitiva e insinua que o real poderia estar ainda mais desvalorizado.

Conselheiro da presidente Dilma Rousseff, Coutinho afirma que o empresariado é ciclotímico e está numa posição "muito mais pessimista" do que o momento justifica.

Segundo ele, esse é um fator para a demora na recuperação do crescimento que, afirma, começa a dar sinais.

O presidente do BNDES, no entanto, evita fazer previsões sobre o desempenho do PIB brasileiro deste ano.

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Folha - No momento em que o BNDES faz 60 anos, a indústria passa por um mau momento, a economia não dá sinais de recuperação. Qual o papel do banco?

Luciano Coutinho - Não sei se é um momento delicado, acho que é rico em desafios positivos. Caminhamos para um patamar de juros condizente com nossa condição macroeconômica.

O Brasil é um dos poucos países com um deficit nominal muito baixinho, de 1%. Todos os países desenvolvidos estão com deficit de 6%, 7%, 8% do PIB.

Os europeus vão suar sangue para chegar a 5%, 6%.

Temos caminho para desenvolver o sistema financeiro privado e o mercado de capitais e uma fronteira de investimentos de alta rentabilidade, que serão propulsores do crescimento.

Essa combinação nos permitirá crescer a taxas mais altas. Tanto mais altas quanto mais capazes sejamos de enfrentar dois grandes desafios: a competitividade industrial e a estrutura tributária.

Mas a confiança do empresário segue muito baixa.

O empresariado é muito ciclotímico. O mercado é ciclotímico em geral. Vai para a euforia e, quando as coisas são mais difíceis, cai numa posição muitas vezes mais pessimista.

Mais pessimista do que deveria?

Sim. Muito afetado pela conjuntura de curto prazo. Por outro lado, tivemos muitos períodos de apreciação cambial. A indústria veio perdendo substância.

O México capturou nosso "market share" de manufaturados nos Estados Unidos. Houve a tremenda expansão chinesa.

Pessoalmente vivi um período de grande angústia. Em muitos momentos fui solitário nesse processo.

Finalmente acho que sociedade brasileira começou a compreender por que é tão relevante uma indústria forte.

É essencial porque cria empregos de alta qualificação, na pré e na pós-manufatura.

O governo tem consciência dos problemas estruturais -ganhar competitividade, reduzir a carga tributária, os custos sistêmicos. Porém a complexidade é maior.

Um dos grandes desafios brasileiros, os juros muito altos, é uma página que está sendo virada. A questão da chamada guerra dos portos, uma batalha difícil, foi enfrentada. E a melhoria relativa da taxa de câmbio real.

Relativa? Poderia ser maior?

Se fosse, melhor. Acho que devemos continuar com o câmbio flutuante, mas... Não quero dar um número... Temos que pensar em faixa, não em números.

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