Índice geral Mercado
Mercado
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Entrevista / Steve Blank

Foco de investidor em aplicativo e redes sociais é ameaça à inovação

PIONEIRO DO VALE DO SILÍCIO AFIRMA QUE PREFERÊNCIA POR FINANCIAR EMPRESAS DE INTERNET COLOCA SOB RISCO PESQUISA NAS ÁREAS DE MEDICINA, ROBÓTICA E MECÂNICA

Peter Da Silva - 20.abr.10/"The New York Times''
Steve Blank durante aula em Berkeley
Steve Blank durante aula em Berkeley

RAUL JUSTE LORES
EM SAN FRANCISCO

Pioneiro do Vale do Silício, Steve Blank, 58, criou oito empresas de software e de semicondutores entre os anos 1970 e 1990. A última foi vendida por US$ 329 milhões em 2005.

Desde o fim dos anos 1990, sua maior paixão é ensinar a arte de criar negócios digitais do zero.

Especialista nas chamadas "startups", ele leciona nas universidades Stanford, Berkeley e Columbia e escreveu dois best-sellers, "Os Quatro Passos para a Epifania" e "Manual para o Dono de uma Startup", com um passo a passo para a criação de uma empresa.

Ele diz que cursos de administração e MBAs não estão preparados para falar com o novo empreendedor ("os cargos e as diretrizes de uma 'startup' são totalmente diferentes de uma grande empresa") e explica as razões do sucesso do Vale do Silício.

Mas teme pela inovação nos EUA. "Se todo investidor de risco só se interessar por aplicativos e mídias sociais, como pesquisas de longo prazo em robótica, medicina e mecânica vão se financiar?"

A seguir, trechos da entrevista que ele concedeu à Folha em sua casa, isolada em um morro com vistas para o oceano Pacífico.

-

Fracasso e experiência
No Vale do Silício, somos tolerantes ao risco. Sucesso não atrai ciumeira, ao contrário, "se ele pode, por que eu não posso?". Fracasso não é considerado o fim do mundo. Fracasso em uma "startup" se chama experiência.
Se as leis de falência complicarem a vida de quem tentou ter um grande negócio por anos e anos, o medo de se arriscar será enorme.

MBA para "startup"
"Startups" não são versões pequenas de empresas grandes. Empresas grandes executam. "Startups" em fase inicial não executam. Elas pesquisam.
Nenhum plano de negócios sobrevive ao primeiro contato com o cliente. Ainda não existe um MBA para a "startup", mas estamos chegando a um método para os empreendedores: 99% dos fundadores não sobrevivem à abertura de capital (IPOs).
Só que as empresas mais bem-sucedidas foram guiadas pelos seus líderes, com paixão e visão, do Google à Apple. Eles podem até contratar executivos de primeira linha para o dia a dia, como fez o Facebook, mas quem dirige o show é o fundador.

Inovação em risco
Os interesses nacionais estão sob risco e o Facebook é exemplar nisso. Durante anos, investidores apostaram em empresas pesquisando robótica, materiais médicos e cirúrgicos, ciências e sensores. Hoje, parece que todos só querem saber do que funcione em tablets e smartphones.
Se os investidores podem escolher entre uma droga que pode curar o câncer, mas que não dará retorno por 15 anos ou um aplicativo que pode se tornar gigante em dois anos, qual você acha que eles vão financiar?

Segredo do vale
Várias cidades do mundo querem criar sua própria versão do Vale do Silício.
Até há várias lições para tirar daqui, mas o que não se conta é que Stanford atraiu milhares de engenheiros e teve várias verbas militares durante a Guerra Fria para desenvolver aparelhos de micro-ondas, equipamentos de inteligência e protótipos.
Professores e empreendedores criaram empresas fora do campus para servir de fornecedores a contratos militares. O mix de boas universidades sem aversão a empreendedorismo, de investidores ousados, de programas governamentais e de abertura para talentos do mundo inteiro criou um molho especial.

Conforto no caos
Empresas novatas pedem executivos que estejam confortáveis com incerteza, caos e mudanças. Com apresentações e produtos que podem mudar diariamente.
Em uma grande empresa, os departamentos de vendas, marketing e desenvolvimento de negócios são tradicionalmente orientados à execução.
Eu sugiro substituir essa equipe por uma de "desenvolvimento do consumidor", que saiba operar agilmente e sem um mapa.

NA INTERNET
Leia a íntegra
folha.com/no1117581

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.