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Análise / Pecuária

Produção de leite ainda não incorpora avanços tecnológicos

MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O desempenho zootécnico e econômico de uma propriedade leiteira está diretamente relacionado ao planejamento e à forma como os recursos são utilizados.

O produtor tem à disposição terra, animais e mão de obra, além de uma infinidade de insumos, como fertilizantes, defensivos agrícolas, produtos químicos para uso animal, material genético e equipamentos.

A produção leiteira está presente em aproximadamente 25% das propriedades rurais brasileiras. Dentre elas, podem ser encontradas produções muito bem estruturadas, com uso adequado dos recursos disponíveis e com boa rentabilidade, remunerando bem o produtor.

Infelizmente, isso não representa a maioria dos casos. Ao contrário, o mais observado é baixa produtividade animal e pouca eficiência reprodutiva, com reflexos diretos no resultado da atividade.

Produzir leite acaba sendo considerado um bom negócio para poucos. Para a maioria, é uma renda secundária, de subsistência, encarada muitas vezes como "escravidão branca", pois o produtor começa antes de o Sol nascer e termina quase na hora de recomeçar.

A produção de leite talvez seja a atividade pecuária mais antiga de que se tem notícia. A forma de trabalhar vem sendo passada de pai para filho, sempre, usando os mesmos métodos e recursos, muitos já ultrapassados.

Os avanços tecnológicos gerados por anos de pesquisa e experimentação não vêm sendo incorporados. A atividade leiteira clama por reestruturação, mas o produtor não tem condições de buscar sozinho o que está disponível para aumentar a eficiência de sua propriedade. A peça fundamental, o elo entre o produtor e a pesquisa, é a assistência técnica.

Aí chegamos em um grande gargalo. Os produtores maiores e capitalizados têm condições de contratar profissionais capacitados. Mas é preciso lembrar que 80% das propriedades são pequenas e de cunho familiar, e não suportam esse investimento.

Além disso, não há técnicos extensionistas treinados em número suficiente e a estrutura para realizar a transferência não está organizada em todos os Estados.

A solução não é muito simples, mas é conhecida. É imperativo o estabelecimento de arranjos locais que garantam um trabalho consistente e contínuo.

Os atores envolvidos compreendem: 1) o técnico extensionista, que deverá estar capacitado e motivado; 2) centros universitários e de pesquisa, que desenvolvem o conhecimento a ser transferido; 3) organizações públicas ou privadas, como prefeituras, organizações estaduais, cooperativas e associações, que possuem importância fundamental para dar condições aos extensionistas, ou seja, remuneração condizente, treinamento e veículos.

O produtor precisa sempre ser assistido, pois o técnico será responsável por trazer as inovações disponíveis e acompanhar a implantação das mesmas. É o fiel da balança na propriedade, ou seja, tem a função de motivador quando o produtor está desanimado e é quem joga um balde de água fria quando a euforia exceder a viabilidade da ação, para evitar investimentos por impulso, o que pode vir a comprometer o resultado da atividade.

Olhos no futuro, com bom planejamento e boa gestão.

MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI é veterinário, doutor e supervisor do Sistema de Leite da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos - SP).

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