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Buenos Aires quer reconquistar brasileiros

Capital argentina sofre o impacto da fuga dos turistas, motivada por inflação crescente, dólar alto e real desvalorizado

Ocupação em hotéis não chega a 40% nesta temporada; setor estuda a adoção de medidas como o "dólar turista"

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Cafés vazios, táxis zanzando pela Recoleta atrás de passageiros, lojas com liquidações e cartazes chamativos com preços em reais.

Nos últimos meses, esse é o cenário nas ruas do centro turístico de Buenos Aires.

Afugentados pela inflação, atingidos pela cotação alta do dólar e a desvalorização do real, os visitantes que no inverno costumam lotar a cidade neste ano não apareceram.

"Está sendo uma temporada muito ruim. A gente estava acostumado a escutar português em cada esquina, agora está ficando mais raro. Se o turista brasileiro desistir de nós, estaremos perdidos", disse à Folha Martín Heredia, dono de uma loja de meias e artigos de lã.

Segundo dados da Associação de Hotéis, Restaurantes, Confeitarias e Cafés de Buenos Aires, a ocupação dos espaços turísticos está caindo.

A de hotéis não chega a 40%, quando a média até o ano passado era de 60% a 70%. Já a das casas de tango despencou de 78% para 38%.

Os números da entrada de visitantes estrangeiros na Argentina são também desanimadores. Entre 2009 e 2010, houve um aumento de 29%, enquanto de 2010 a 2011 foi de apenas 2%.

Neste ano, houve queda em abril (5,9%) e maio (4,7%), em comparação com os mesmos meses do ano anterior.

"Antes eu nem olhava preço direito e saía daqui cheia de sacolas. Agora escolho bem. O que mais confunde é que em cada bairro o preço é um. Como saber onde comprar a jaqueta de couro mais barata e o vinho mais em conta?", pergunta Rafaela Dias, 37, turista de Minas Gerais.

A inflação na Argentina é de 9%, segundo o governo, e de quase 25%, de acordo com consultorias privadas.

O índice tem impacto de forma visível no bolso do turista. Um café no centro da cidade chega a custar a metade do que no restaurante do Malba (Museo de Arte Latino-Americana) ou no café La Biela, na Recoleta, pontos muito disputados pelos turistas.

Segundo o titular do órgão turístico local, Hernán Lombardi, algumas propostas estão sendo estudadas para aliviar o choque da inflação no turismo. Entre elas está a de implementar um "dólar turista", que teria cotação à parte, menor que a do chamado "blue", comprado no mercado negro.

A outra é estender a devolução do IVA (Imposto sobre Valor Agregado), hoje aplicado ao comércio, também para hotéis e restaurantes.

Dessa forma, os turistas poderiam pedir um reembolso desses gastos no aeroporto, antes de voltar para casa. Lombardi reforça que a prioridade do órgão é voltar a seduzir o turista brasileiro.

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