Índice geral Mercado
Mercado
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Cifras&Letras

Crítica Economia Americana

Autor defende vilões ao fazer nova leitura da crise nos EUA

Ex-colega de Mitt Romney preserva bancos e combate taxação de fortunas

Na sua defesa da inovação das empresas de tecnologia dos Estados Unidos, Conard quase resvala para a xenofobia

ÁLVARO FAGUNDES
DE SÃO PAULO

A crise econômica iniciada em 2007 nos EUA e que se arrasta até agora -vide o fraco resultado do PIB do segundo trimestre, divulgado ontem- tem alguns vilões costumeiros: os bancos, os ricos e o deficit comercial são os culpados mais frequentes.

São esses alguns dos "mitos" que Edward Conard tenta desconstruir em "Unintended Consequences" ("Consequências Não Intencionais", em uma tradução literal), livro lançado no mês passado nos EUA que é uma defesa da inovação e do risco assumido por empresários.

Para o autor, ex-colega na Bain Capital de Mitt Romney -o candidato republicano à Presidência-, os americanos, em vez de reclamar da diferença de ganhos (que fica cada vez maior entre ricos e pobres), deveriam "valorizar a nossa sorte".

A tese é que são os mais ricos que investem na inovação e que, portanto, devem ser valorizados por isso. "Retornos elevados para inovadores de sorte motiva outros a repetir o sucesso", escreve.

Por isso, o aumento da tributação sobre os mais ricos, tese defendida pelo presidente americano Barack Obama, seria contraprodutivo: puniria quem investe em inovação e reduziria os investimentos.

QUASE XENÓFOBO

Na sua defesa da inovação americana, o ex-parceiro de Romney (que não comentou publicamente as ideias do antigo colega), porém, quase resvala para a xenofobia: "Os inovadores dos EUA produziram Intel, Microsoft, Google, Facebook etc. O resto do mundo produziu quase nada".

Mais: questionado sobre a falta de programadores de máquinas nos EUA, ele não menciona os problemas da educação no país. Prefere dizer que esses profissionais estão trabalhando no Google e no Facebook, enquanto a Alemanha produz "máquinas-ferramentas não lucrativas" usadas por chineses.

No raro momento em que fala de educação, prefere culpar os estudantes por estudar poesia elizabetana em vez de "asssumir os riscos e as responsabilidades necessários" para transformar investimentos em realidade.

Ele também vê o comércio exterior como mão de obra barata para os EUA, permitindo que os americanos possam investir mais e que seus trabalhadores possam realizar funções mais qualificadas. Por essa razão, o deficit comercial seria benéfico aos EUA, ao contrário do que dizem os críticos que culpam a volúpia americana de comprar produtos de fora, especialmente na China.

DEFESA DOS BANCOS

Ainda que Conard traga alguns argumentos interessantes, a sua defesa dos bancos beiraria a ingenuidade, não fosse o seu passado numa das maiores empresas de "private equity" (de investimento em empresas) do mundo.

Para ele, os bancos não sabiam que estavam repassando a investidores papéis problemáticos ligados ao setor imobiliário, epicentro da crise. Diz que o setor não precisa de regulação porque isso seria condenar o país ao crescimento econômico baixo.

UNINTENDED CONSEQUENCES

AUTOR Edward Conard

EDITORA Portfolio Hardcover

QUANTO US$ 27,95 (320 págs.)

AVALIAÇÃO Regular

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.