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Crítica negócios

Primeira multinacional é fonte de lições, indica livro

Historiador usa Companhia das Índias para apontar problemas em empresas

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

A primeira multinacional da história deixou muitas lições para as corporações modernas. Mas poucas aprenderam com o passado.

Essa é a análise que o historiador Nick Robbins, autor de "A Corporação que Mudou o Mundo", tenta comprovar na narrativa sobre a Companhia das Índias Orientais.

A relação entre a companhia, formada por comerciantes de Londres no início do século 17, e as empresas atuais é o cerne do livro e o diferencia de outros dedicados exclusivamente à história da Companhia das Índias.

Antes da análise, vale um breve relato da trajetória histórica da corporação.

Fundada em 1600, a Companhia das Índias Orientais deteve, durante mais de 200 anos, o monopólio do comércio com o Oriente, garantido pelo governo britânico.

A sua relação com a Coroa britânica, portanto, foi marcada por troca de interesses, o que abriu brechas para episódios de corrupção.

A companhia foi pioneira no modelo corporativo de sociedade por ações e vivenciou até uma espécie de pioneira bolha nas negociações dos seus papéis.

Também se envolveu em guerras pelo poder e foi apontada como responsável pelo episódio conhecido como a "Fome de Bengala", que resultou na morte de milhões de indianos por inanição.

Embora as empresas modernas raramente se envolvam em casos de violência, as comparações com a Companhia das Índias são muitas: vão do monopólio de mercado às práticas de gestão, passando por ações especulativas de executivos e de investidores, uso de informações privilegiadas e casos de corrupção.

ERROS

O autor, que tem mais de 20 anos de experiência em questões de responsabilidade corporativa, ataca empresas de todos os setores da economia moderna.

Altamente concentradas, as tradings de commodities geram pressões de baixa sobre os preços das matérias-primas exportadas pelos países emergentes, afirma.

Ele também diz que a concentração na área de geração de energia é uma ameaça à sustentabilidade e que as grandes varejistas mundiais usam o seu poder de mercado para "drenar" a riqueza das comunidades agrícolas.

Ele usa como exemplo o Wal-Mart, classificado como "o emblema da nova era monopolista", citando milhares de ações judiciais contra o gigante norte-americano.

Em alguns momentos, o autor deixa o radicalismo de lado e usa a teoria econômica de Adam Smith para dar base às suas conclusões, ao citar vários trechos do clássico "A Riqueza das Nações".

HERANÇA

Embora Robins dê ênfase mais a heranças negativas da Companhia das Índias, nem tudo é crítica na obra.

"Os comerciantes ingleses ensinaram como promover o equilíbrio entre oferta e demanda em lados opostos do globo", escreve.

Além disso, apresentou ao mundo empresarial a separação entre investidores e administradores e o compartilhamento de riscos e lucros entre os acionistas.

E foi esse revolucionário modelo que a permitiu ampliar o seu capital para iniciar, de tempos em tempos, uma nova viagem ao Oriente.

A versão brasileira do livro, editado em 2005, chega tarde -o lançamento no país ocorreu neste ano.

No entanto, como a crise de 2008 incentivou a consolidação de empresas em vários setores, o debate sobre monopólio e suas consequências continua bem atual.

A CORPORAÇÃO QUE MUDOU O MUNDO
AUTOR Nick Robins
EDITORA Difel
TRADUÇÃO Pedro Jorgensen
QUANTO R$ 49 (304 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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