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Planejamento evita ginástica financeira

Além das despesas fixas, é preciso estimar imprevistos, como quebra ou acidente; há casos em que táxi é melhor opção

Carro não deve ser visto como investimento, mas como item de consumo; compra à vista traz vantagens

Zé Carlos Barretta/Folhapress
A analista química Ana Cristina Rocha com o carro que comprou e que está com dificuldade para pagar
A analista química Ana Cristina Rocha com o carro que comprou e que está com dificuldade para pagar

DE SÃO PAULO

Quando Ana Cristina Rocha, 32, decidiu comprar um carro, optou por um seminovo -mais barato do que um zero. Depois de fazer alguns cálculos, ela chegou à conclusão de que o valor mensal cabia no orçamento e assumiu as parcelas da dívida de um amigo.

Mas, ainda que a parcela coubesse no bolso, o que a analista química não levou em conta foi o conjunto de outros custos embutidos no simples fato de ter um carro.

Resultado: hoje ela e o marido precisam do carro e, para pagar as parcelas e usá-lo, têm de fazer uma verdadeira ginástica financeira.

"Hoje precisa fazer milagre. No mês que você paga uma coisa não paga a outra e no outro mês você paga aquela que não pagou", diz Ana Cristina.

Gastos com combustível, impostos, manutenção, estacionamento, seguro e até eventuais multas podem superar muito as parcelas que, aparentemente, eram compatíveis com a renda. Dependendo da rotina do dono do carro, elas podem até dobrar.

Uma estimativa: a parcela de um carro de R$ 30 mil financiado em 48 vezes com taxa de 1,5% sairia R$ 881. Mas, somados os outros custos, chega a R$ 1.331,25, fora os gastos eventuais.

Para especialistas, além dos incentivos do governo, como a redução do IPI, que diminuem o preço e aumentam o impulso para a compra, essa ausência de planejamento é um dos principais motivos da inadimplência alta na aquisição do veículo.

"Quando a gente comprou o carro, estava naquela empolgação e acabou não pensando nesses gastos. E o carro quebra de surpresa", diz.

NA PONTA DO LÁPIS

"Quando uma família põe um carro no orçamento, é como se estivesse incluindo um filho", afirma o professor da FGV Alexandre Canalini.

E, para não cair na armadilha de ter que se desfazer desse "novo integrante da família" ou ter que deixá-lo parado na garagem, a recomendação é não se deixar levar pela empolgação e colocar tudo em uma planilha.

O gasto com combustível, por exemplo, vai depender de quantos quilômetros a pessoa roda por dia e de qual combustível usa -fora alguma viagem de fim de semana. Já o seguro pode encarecer ou baratear de acordo com fatores como o local em que a pessoa mora.

Fora o custo de oportunidade, que é quanto aquele dinheiro renderia se estivesse aplicado. Nesse caso, a comparação deve ser feita com os gastos que não são financiados ou com a compra à vista.

"Ouvi uma vez esta frase: se você for comprar um carro, tenha dinheiro para comprar outro", diz o professor do Insper Otto Nogami.

"Nessas condições mais alongadas e com baixa entrada, a pessoa pode estar jogando fora outro carro. Ela pode montar uma poupança para juntar o valor à vista, quando o poder de barganha será maior", afirma.

É preciso levar em conta também que o automóvel é um item de consumo -e não um investimento- e sofre depreciação, diz Nogami.

Além dessas contas, é importante verificar se usar outro meio de transporte, como táxi, ou alugar um carro no fim de semana pode ser mais vantajoso.

No caso do táxi, a conta deve considerar, por exemplo, o preço por quilômetro, os quilômetros rodados por dia, a bandeirada, o horário (pois a tarifa pode ser maior), o preço da hora parada e os engarrafamentos, e o próprio valor do tempo que será economizado, entre outros itens.

Considerando a simulação do carro de R$ 30 mil, o táxi é vantajoso se a pessoa percorre até 11,7 km por dia, segundo cálculo do professor Samy Dana, da FGV-Easp.

Mas, para quem já comprou o carro e ele está corroendo o orçamento, o conselho dos especialistas é: venda mesmo que haja alguma perda, porque ela se tornará maior.

(MARIA PAULA AUTRAN)

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