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Desfiles se apressam e atropelam tecelagens

Fashion Weeks de São Paulo e Rio antecipam desfiles a partir deste ano; fornecedores reclamam de prazo curto

Fabricante de tecido se volta para confecções do Bom Retiro, que estão aquecidas pelo consumo da classe C

Eduardo Knapp/Folhapress
Renato Bitter, da tecelagem Savyon, que fornece para grifes das semanas de moda e para confecções do Bom Retiro
Renato Bitter, da tecelagem Savyon, que fornece para grifes das semanas de moda e para confecções do Bom Retiro

ELIANE TRINDADE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A realização de três semanas de moda em 2012 coloca à prova a capacidade de produção das tecelagens brasileiras. Tudo em nome de um ajuste desejável no calendário de moda, que, para alguns críticos, está sendo feito de forma apressada.

A partir deste ano, a São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio passarão a ser realizados em outubro/novembro (para o lançamento do inverno do ano seguinte) e em março/abril (para o lançamento do verão).

Até então, em janeiro ocorria o lançamento de inverno, e, em junho, o do verão, com prazo de dois meses para os produtos chegarem às lojas ­-a edição primavera-verão da Première Vision Brasil, feira de lançamento de tecidos, foi mantida em janeiro.

"Nesse primeiro momento, todos os elos da cadeia produtiva da moda vão viver ajustes. Tanto os estilistas para antecipar suas coleções como a indústria, que vai precisar fornecer matéria-prima antes e criar as próprias tendências", afirma Graça Cabral, diretora de planejamento da Luminosidade, empresa que organiza as duas semanas de moda.

A chiadeira é maior entre os fornecedores de tecidos. E não só pelos exíguos 45 dias para entrega de matéria-prima até os desfiles.

"É mais difícil trabalhar com esse calendário. Não vamos poder ir à Europa ver

o que está nas vitrines. Vamos fazer uma coleção no escuro, sem tanta informação como antes", afirma Renato Bitter, da malharia e tecelagem Savyon.

A consultora de moda Costanza Pascolato, dona da tecelagem Santa Costanza, considera que o setor passará por uma espécie de "vestibular".

"O Brasil será o primeiro a mostrar o próximo inverno, enquanto o hemisfério Norte só vai lançar a estação em fevereiro." Ou seja, a indústria brasileira vai ter que copiar menos e criar mais.

Ela vislumbra benefícios a longo prazo. "O novo calendário de desfiles é uma oportunidade para elaboramos uma identidade própria. A indústria inteira vai ter que se aproximar mais da realidade do varejo do próprio país."

BOM RETIRO

No momento, o Bom Retiro, tradicional reduto do comércio varejista, vai ganhando de goleada das badaladas grifes das semanas de moda.

"Nossos maiores clientes são as confecções que seguiram essa nova classe C e fazem uma moda mais sensual, com roupas coladas", diz Bitter, que fornece para marcas que desfilam na SPFW e no Fashion Rio e para confecções do Bom Retiro.

"O Brasil não teve ainda tempo de evoluir sua produção de luxo para uma escala industrial", diz Costanza.

Para a consultora, a sofisticação de estilistas como Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho e Alexandre Herchcovitch, por exemplo, ainda é um laboratório. No entanto, Costanza acha injusto colar carimbo de irrelevância nas semanas de moda. "A SPFW é o cartão de visitas da moda brasileira, importantíssimo para fazer frente à invasão de produtos estrangeiros."

Bitter concorda, em parte. "As Fashion Weeks são onde tudo começa, mas nossos outros clientes compram mais. Eles já trabalham no 'timing' que funciona pra mim. São quem segura a indústria."

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