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Julio Vasconcellos

Uma política de gente inovadora

Se você contrata os talentos "notas 10", saiba que esses talentos vão querer recrutar os "notas 11"

Tive o privilégio de participar, ao longo desta semana, do Congresso Nacional de Recursos Humanos (Conarh), um dos maiores eventos de RH na América Latina.

Nas interessantes conversas que apareceram ao longo do evento, e também ao palestrar, abordei um tema mais presente do que nunca: inovação e RH.

Ao planejar uma empresa que pretende ser inovadora, muitos começam por P&D, marketing e comunicação. A área de recursos humanos, que deveria ser o começo de tudo, dificilmente chega perto da lista de áreas "top of mind" quando o tema em pauta é esse.

A inovação vem da alma da empresa, e a alma da empresa é sua cultura. A cultura, por seu turno, é construída pelas pessoas, pela forma como elas interagem entre si e com a empresa. Para cultivar uma cultura inovadora, precisamos de práticas de gente e gestão -começando pelo recrutamento, passando pela capacitação contínua (e também pela política de remuneração) que fomente a atitude voltada para a inovação. As próprias práticas, por si só, já podem ser inovadoras, demonstrando a cultura que almeja criar.

A primeira coisa que a empresa tem de incorporar é que RH é responsabilidade de todos. Boas práticas devem ser adotadas, desde o CEO até o estagiário. Delegar as políticas e atitudes que definem a cultura da empresa apenas para um departamento mata a autenticidade e a paixão que todos deveriam sentir por tudo que a empresa representa.

Existem duas atividades-chave na política de gente que tem o maior impacto na cultura da empresa e em sua habilidade de inovar no longo prazo: recrutamento e desenvolvimento. Conhecer formas de torná-las mais inovadoras já é um primeiro passo rumo à inovação.

A fase inicial do relacionamento com um colaborador é a de recrutamento. Se você começou contratando os melhores talentos (os "notas 10"), saiba que esses mesmos talentos vão querer recrutar os "notas 11" -pessoas ainda melhores do que eles. Dado isso, seu foco deveria ser incentivar e equipar seus "notas 10" para recrutar seus futuros colegas.

Uma tática simples, mas muito eficaz, é pedir a um recrutador para sentar ao lado de um colaborador por algumas horas e olhar para cada contato dele no Facebook e no LinkedIn perguntando se ele indicaria aquele contado para eventuais vagas em aberto.

Já descobrimos, na prática, que as pessoas não lembram de todos os amigos e contatos que poderiam indicar e essas poucas horas de trabalho detalhado e concentrado podem gerar seis vezes mais indicações bem-sucedidas de um colaborador do que o processo usual.

Outra prática essencial na última fase do recrutamento (quando o candidato está decidindo aceitar a proposta) é dar abertura para a desistência do candidato. Ao desistir durante o processo, evitamos contratar alguém, investir tempo e dinheiro em treiná-lo, só para perdermos essa pessoa no curto e médio prazos, quando ela desiste da vaga.

A Zappos, nos EUA, tem a famosa prática de oferecer US$ 1.000 para os funcionários que pedem para sair no final do treinamento. No nosso caso, adaptamos a prática e criamos uma apresentação com "10 Razões para não Trabalhar no Peixe Urbano", que tem como objetivo mostrar tudo que poderia amedrontar um possível futuro colega.

Passada essa etapa de recrutamento, é importante manter essa pessoa crescendo (profissionalmente, mas também pessoalmente) e sendo continuamente desafiada. Para a cultura de inovação, é importante proporcionar um crescimento não linear, que force o colaborador a solucionar problemas diferentes e fora de sua zona de conforto.

Um exemplo clássico de como fazer isso são os 20% do tempo do colaborador que o Google disponibiliza para projetos pessoais e diferentes -uma prática que gerou produtos como Gmail, AdSense e Orkut.

O valor de tudo isso está sintetizado num provérbio chinês, formulado muito antes da existência do conceito contemporâneo de empresas: "Se você quer um ano de prosperidade, cultive trigo. Se você quer dez anos de prosperidade, cultive árvores. Se você quer cem anos de prosperidade, cultive pessoas".

JULIO VASCONCELLOS, 31, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano. Escreve às quintas-feiras, a cada quatro semanas, nesta coluna.
julio.folha@yahoo.com

AMANHÃ EM MERCADO
Rodolfo Landim

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