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Brasil importará ao menos 3,5 vezes mais gasolina em 10 anos

No cenário mais pessimista, em que produção de álcool e gasolina nacionais não cresce, aumento será de 6,7 vezes

Problema é causado por pouco investimento em refinarias e ausência de política para as usinas que produzem etanol

VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

Estudo do governo mostra que a crise recente no setor de etanol pode fazer explodir a importação de gasolina no país, produto que até 2010 o país exportava.

No cenário mais otimista, que prevê a adoção de medidas para fortalecer o mercado de combustíveis, é estimada alta de 354% nas importações de gasolina num período de dez anos -de 221.365 metros cúbicos por mês em 2011 para 1 milhão de metros cúbicos mensais em 2020.

O cenário intermediário aponta uma alta de 619% nas importações no mesmo período, no qual o governo eleva a mistura de etanol na gasolina de 20% para 25%, mas não altera significativamente a capacidade de produção das usinas de álcool.

O mais pessimista, de estagnação na produção de etanol e gasolina, estima um salto na importação de 671%. Os cenários foram elaborados prevendo crescimento médio de 4,5% ao ano no consumo de combustíveis no período.

"Essas previsões são um sinal de alerta, de que precisamos tomar medidas para o setor. Faremos isso", disse à Folha o ministro Edison Lobão (Minas e Energia).

Ele destaca que a situação é um reflexo do crescimento do mercado brasileiro e que não pode ser classificada de alarmante: "Importamos gasolina de um lado, mas exportamos petróleo de outro."

Ou seja, parte do que o país perde com a importação de gasolina é recuperada pela exportação de petróleo, que tende a ser crescente com a exploração do pré-sal.

O estudo, encomendado pelo Palácio do Planalto, servirá de base para discussão com a presidente Dilma de um plano para o setor de combustíveis, principalmente etanol. A avaliação de técnicos é que ainda há tempo de evitar o pior, desde que sejam tomadas de fato medidas.

No diagnóstico dos técnicos, o país passou a importador de gasolina por causa de vários fatores, entre eles: falta de investimento em novas refinarias -hoje refina-se 1,8 milhão de barris diários de petróleo e consomem-se 2,2 milhões- e estagnação e até recuo na produção de etanol.

Enquanto isso, a demanda por combustíveis a partir de 2004 cresceu, todos os anos, mais do que o PIB brasileiro. Em 2011, o PIB subiu 2,7% e o consumo, 5,7%.

O problema no setor se agravou porque o governo Lula segurou artificialmente o preço da gasolina e não priorizou novas refinarias, apostando que o etanol supriria a alta da demanda.

Resultado: o preço do etanol -que deve representar até 70% do preço da gasolina para compensar o rendimento menor- perdeu competitividade e desestimulou a produção do setor.

Como não houve aumento na capacidade de refino de gasolina no país, o governo não tinha como suprir a queda na produção de etanol com gasolina nacional. Daí a importação, que prejudica o caixa da Petrobras.

Os técnicos avaliam que o preço pesou na crise, mas que os principais problemas foram preço e competitividade.

Um terço das usinas tem elevado índice de endividamento e pouca capacidade de quitar seus débitos.

Entre 2010 e 2011, a produção de etanol caiu 15% e a produtividade caiu de 85,1 toneladas de cana por hectare para 68,9 no Centro-Sul.

Especialistas apontam, contudo, que o setor começa a se recuperar. A produtividade deve fechar este ano em 74,8 toneladas de cana por hectare no Centro-Sul.

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