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Finanças pessoais

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Fatores que provocam oscilação nos juros de título do Tesouro

Na coluna da semana passada, abordei a rentabilidade fantástica da NTN-B longa, que proporcionou ganhos espetaculares aos investidores com posições nesse título.

Procuramos explicar, de forma simplificada, o que gerou essa valorização. Sabemos que a NTN-B paga a variação do IPCA mais uma taxa de juros prefixada, conhecida como "cupom".

E vimos que, quando a taxa de juros do cupom cai, o valor do título sobe, antecipando ao investidor um ganho que, em cenário de juro estável, não ocorreria.

Vimos também que, quanto maior o prazo do título, maior o impacto provocado pela oscilação do cupom. O prazo longo funciona como uma alavanca que potencializa o resultado, positivo ou negativo.

Exatamente uma semana depois, visito novamente o site do Tesouro Direto para conferir como anda a rentabilidade acumulada em 12 meses da NTN-B 2035. E observo que a rentabilidade caiu de 58% (semana anterior) para 50% (posição do dia 20 deste mês).

O cupom de juros, negociado a 4,40% na semana anterior, era negociado a 4,48% na terça-feira, dia 21. A taxa do cupom subiu, o preço do título caiu. E caiu a rentabilidade acumulada.

Considerando que a taxa Selic não mudou nesse curto espaço de tempo, como explicar a queda no preço e na rentabilidade da NTN-B?

Quais são os fatores que fazem a taxa de juros do cupom subir ou cair?

Novamente peço licença para abordar o assunto de forma simplificada, tentando proporcionar o entendimento ao investidor que não é especialista no assunto.

A taxa básica de juros da economia é uma só, a Selic, atualmente no patamar de 8% ao ano. Ela resulta da média de transações feitas por um único dia no mercado interfinanceiro, com lastro em títulos públicos.

A definição das outras taxas de juros, de títulos emitidos no setor privado, das taxas prefixadas, ou ainda do cupom dos títulos atrelados a índices de preços, deriva dela.

Todas as taxas de juros precisam estar em equilíbrio para evitar transações de arbitragem que permitam a um investidor mais atento comprar um ativo "barato" e vender outro "caro", simultaneamente, gerando ganho fácil, sem correr riscos.

Não por acaso, o governo modificou o rendimento dos depósitos em caderneta de poupança. Exatamente para assegurar o equilíbrio de taxas e preços nos diversos mercados.

Sabemos que, idealmente, a taxa de juros deve proporcionar ao investidor a reposição do índice de inflação mais uma taxa de juros real para incentivar o investimento -e não o consumo.

VARIÁVEIS

Vamos trabalhar com duas variáveis: taxa de juros básica (Selic) e taxa de inflação (IPCA) e simular três cenários e observar como a oscilação em uma das taxas interfere nas outras.

Para facilitar nossa simulação, vamos manter a Selic estável em 8% ao ano e supor oscilação somente no IPCA.

Tudo começa quando, dada uma estimativa de inflação, o governo define a taxa de juros básica da economia, para operações de curtíssimo prazo, e sugere um patamar de juro real.

Vamos supor uma política monetária que estimula mais a poupança, menos o consumo, com prêmio de 4% ao ano acima da inflação, estimada em 4% ao ano, de acordo com o IPCA.

CENÁRIO 1

Selic de 8% ao ano; IPCA de 4% ao ano; cupom de 4% ao ano; taxa prefixada de aproximadamente 8% ao ano.

No cenário 1, a taxa prefixada da LTN ou da NTN-F seria semelhante à taxa Selic, entre 8% e 9%, conforme o prazo de vencimento. O cupom da NTN-B seria de 4% ao ano -um pouco mais, talvez, nos títulos mais longos.

Se a projeção da inflação estiver correta, o retorno do investidor, em qualquer uma das opções, será semelhante, impedindo operações de arbitragem.

CENÁRIO 2

Selic de 8% ao ano; IPCA de 5% ao ano; cupom de 3% ao ano.

Suponha uma elevação nos preços e que o IPCA, projetado pelo mercado, suba para 5%.

O Banco Central, entretanto, não altera a taxa básica de juros. Ao manter a Selic inalterada, o BC reduziu o valor do prêmio (juro real).

Para continuar em equilíbrio, o mercado fará um ajuste na taxa de juros do cupom da NTN-B. Com a queda da taxa de juros do cupom, os títulos anteriormente negociados com cupom de 4% serão valorizados porque a nova taxa exigida pelo mercado é menor do que a anterior.

CENÁRIO 3

Selic de 8% ao ano; IPCA de 3% ao ano; cupom de 5% ao ano.

O inverso é verdade. O mercado antecipa a redução no índice de preços medido pelo IPCA e projeta inflação de 3% ao ano. Mantida inalterada a taxa Selic, a taxa do cupom será ajustada para 5% ao ano.

Com a alta da taxa do cupom, os títulos anteriormente negociados com cupom de 4% serão desvalorizados porque a nova taxa exigida pelo mercado é maior do que a anterior.

Lembre-se de que existe volatilidade, maior ou menor, nas outras duas variáveis também: taxa Selic e taxa real de juros.

Não é pequeno o desafio do investidor que tenta acertar na mosca a tendência das variáveis de mercado. Mas é importante saber como e por que os preços de seus ativos flutuam ao longo do tempo.

Na vida real, o alinhamento dos "blocos" não é tão perfeito quanto meu exemplo. E o cupom tende a ser maior nos títulos mais longos, para remunerar o risco do investidor que aceita riscos em busca de maior retorno.

Se você é conservador, reduza o risco assumindo posições mais curtas. Sua rentabilidade será menor, mas você estará menos exposto à volatilidade dos preços.

M ARCIA DESSEN, Certified Financial Planner, é sócia e diretora-executiva do Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.
@bmibrasil

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