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Pequenas taxas, grandes projetos

Juros reais em 2% abrem novos negócios e tornam atraente investimentos em projetos de infraestrutura com retorno a partir de 6% ao ano mais IPCA

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

O Brasil nunca teve juros tão baixos e condições tão favoráveis para conseguir apoio privado para financiar, sem o dinheiro barato (e escasso) do BNDES, os R$ 130 bilhões em infraestrutura que têm risco alto de execução e que precisam de prazos longos.

Longamente esperada, a novidade abre frentes de negócio para os bancos que têm know-how de estruturar a engenharia financeira que permite que os próprios projetos "se banquem" com o ganho que terão no futuro.

A maior aposta são as debêntures (títulos de dívida) de infraestrutura, que começam a sair do papel. Elas têm isenção do IR para a pessoa física e o investidor estrangeiro. O risco não é baixo (depende da solidez), mas o ganho vale a pena.

A conta é simples: quem empresta ao governo aplicando, por exemplo, num fundo DI, leva, na melhor das hipóteses, 7,5% ao ano. Dá 2% reais após descontada a inflação de 5,5% e sobra só 0,88% depois do IR de 15%.

Financiar uma estrada ou um aeroporto pode render entre 6% e 6,5% ao ano acima da inflação, segundo estima o mercado. E sem o pagamento do IR, no caso dessas novas debêntures. Seis projetos já tiveram aval para ter isenção. São 6%, ante 0,88%.

Até o ano passado, com juros de 12,5% (inflação de 6,5%), o investidor ainda ganhava 4,125% sem riscos. Eram 4,125%, ante 6%.

Demanda por estradas, ferrovias, portos e aeroportos sempre existiu no Brasil.

Para os investidores, faltava tratar essas deficiências como uma oportunidade de ganhar dinheiro.

O problema é que esses serviços só ficarão prontos, na melhor das hipóteses, entre quatro e dez anos, dependendo da complexidade.

Como bancar esse período de despesas altas, nenhuma receita, e muita chance de atraso e de dificuldades pelo caminho?

"É questão de preço. Com os juros rumando para 7%, tudo isso fica viável. Vai acontecer", diz Marcio Guedes, diretor da Anbima (associação das entidades do mercado de capitais).

"Falar em 6% acima da inflação é um retorno excelente numa economia que aponta 2% de taxa real. Mas tem de analisar cada projeto. Com técnica, podemos ter ganhos maiores", diz Alberto Zoffmann, do Itaú BBA, que tem 40 mandatos de projetos que somam R$ 48 bilhões.

Novata, a Caixa Econômica já tem 50 projetos em estudo e o Santander analisa vários outros. "É uma grande mudança e apostamos nesse mercado", diz Mauro Albuquerque, do Santander.

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