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Entrevista Aldemir Bendine

Mercado pode esquecer a era dos retornos altos

Presidente do Banco do Brasil, o maior do país, diz que juros baixos exigem melhor eficiência dos bancos e que acionistas não devem mais esperar ganhos de 20%

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EDITORA DE "MERCADO"

Acabou o negócio bancário baseado no "spread", segundo Aldemir Bendine, presidente da maior instituição financeira do país, o Banco do Brasil. A nova realidade, diz ele, é a dos juros baixos, que esmagam essa diferença entre a taxa que o banco paga ao captar recursos e a que cobra para emprestá-los.

Para Bendine, os bancos que obtinham taxas de "spread" acima do dobro da média mundial- vão ter que aprender a trabalhar em parceria para reduzir custos.

Mas, principalmente, terão que ampliar o volume de empréstimos, mudar a gestão para ganhar eficiência e melhorar o atendimento.

Já os investidores precisam se acostumar a rendimentos menores. "Achar que nós vamos ficar em índice acima de 20% de rentabilidade sobre o patrimônio, esquece...", afirma o presidente do BB.

Leia trechos da entrevista.

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Folha - Quais as perspectivas para a economia?

Aldemir Bendine - Tínhamos uma previsão de retomada a partir do segundo semestre, que não veio tão rápido. Desde julho, notamos a retomada do interesse das empresas pelo crédito para projetos de investimento. Aquela desconfiança dos empresários está se revertendo.

O nível de endividamento é uma preocupação?

Não vejo um endividamento excessivo da família brasileira nem das empresas. Na nossa base, a inadimplência se manteve inalterada.

Mas a gente sempre trabalha com linhas de menor risco. Se não temos um ganho elevado, por outro lado ganhamos em volume e nesse baixo índice de perda.

Esse efeito vem mais de novos clientes que transferiram dívidas para o BB ou de antigos clientes?

Estamos vendo a entrada do cliente novo, que está migrando. O próprio cliente da base está renegociando sua dívida nas novas condições. E tem o terceiro cliente, que era mais conservador, não entrava no crédito porque entendia que o custo estava excessivo, e passou a se planejar em cima de crédito.

Pessoa física ou jurídica?

Estamos falando de pequenas e médias empresas, que viam um custo maior para tomar empréstimo e que trabalhavam com capital próprio. Não tenho dúvida de que esse é o setor mais dinâmico.

O que é mais importante para competir no varejo: preço ou atendimento?

É preço mais atendimento. Essa estratégia mais agressiva em cima do preço tem provocado uma procura do consumidor. Só o atendimento nessa nova realidade não adianta. Mas, se tiver um preço competitivo sem bom atendimento, você também não vende.

Como foi a reação dos bancos privados?

De forma geral, os bancos privados melhoraram o preço, mas de forma não tão agressiva. Não estávamos preparados para um cenário de "spread" bruto bem baixo.

Há estudos de que a relação hoje da carteira de crédito pelo número de funcionários é, na média, 1/3 ou até 1/4 inferior do que a média mundial.

À medida que aumenta esse percentual de crédito, você melhora essa eficiência e consegue trabalhar com esses "spreads" mais baixos.

O "spread" bruto no mundo está na faixa de 3% a 4%. No Brasil, o do BB gira em torno de 7%. Nos demais, é maior.

Acabou o negócio do "spread"?

Acabou. O "core business" de banco continuará sendo a intermediação financeira. Como você vai compensar essa redução de "spread"? Com volume. É o primeiro grande movimento. O segundo se dará na oferta de produtos e serviços mais inteligentes.

Para o Banco do Brasil, é uma realidade dada que vamos trabalhar com "spread" menor e manter o nível de rentabilidade. Para isso, a eficiência precisa melhorar. Como se dá isso? Fizemos investimentos muito altos e estamos fazendo um choque de gestão, inclusive adotando modelos internacionais.

Eficiência passa por ganho de escala. Uma forma inteligente é o próprio mercado bancário compartilhar determinados processos que gerem uma escala maior. Talvez seja o principal desafio, não só do BB.

O sr. fala de o setor trabalhar em conjunto?

Sim. Uma deficiência é essa quantidade de terminais eletrônicos, cada um com sua própria rede. Isso já não é mais diferencial, é uma commodity. Estamos falando também de transporte de valores, terminais, aquisição de insumos, tecnologia...

E quais são as dificuldades?

Um quer um modelo "x", o outro, "y". Para implantar cartão com chip no Brasil foi duro. Um queria de um jeito, outro de outro. Mas acho que esse novo cenário vai levar a uma rapidez nessa busca de parcerias.

A nova realidade de juros baixos muda o retorno para o acionista?

Mesmo que você perca um pouco de rentabilidade agora, é um movimento transitório. Você tem que fazer isso. O problema é não se adequar.

Achar que vamos ficar em índice acima de 20% de rentabilidade sobre o patrimônio, esquece... Uma economia madura não permite isso.

O mercado de capitais acordou para essa nova realidade?

Para falar o português correto, é imaturo. Taxas de retorno sobre o investimento nas proporções que o mercado de capitais quer exigir... Vai exigir em outro lugar. Aqui não tem mais espaço para isso. Vamos ter que trabalhar com essa realidade.

É enganar as pessoas prometer rentabilidades que você tinha dez anos atrás. Isso não existe mais.

Vamos dar um excelente retorno para nosso acionista, não tenho dúvidas disso.

Ninguém vai cortar rentabilidade do dia para a noite. Não vou virar a chave de 20% para 10%. Vai acontecer uma acomodação e depois ficar no patamar internacional.

Falar em 19%, 18% com juros reais de 2%...

Está certo a presidente [Dilma] gritar, né?

Leia a íntegra
folha.com/no1150401

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