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Análise

Dinâmica do crédito está emperrada e só depende de ação do Poder Executivo

ROBERTO LUIS TROSTER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A pergunta que todos se fazem é como bancos operando num nicho aparentemente muito seguro, como é o consignado, causam prejuízos tão grandes.

Além das perdas dos depositantes, o dano maior foi na reputação do país e na credibilidade do sistema.

O acontecido é a ponta do iceberg. Além dos problemas nos três bancos, há sinais que mostram que a dinâmica do crédito está emperrada.

A inadimplência bate recordes de alta, quando, em razão do baixo desemprego, deveria apresentar níveis mínimos; uma em cada nove famílias brasileiras afirma não ter como pagar suas dívidas.

Na última nota à imprensa do Banco Central, o total de crédito existente dos bancos privados nacionais caiu! Leia-se: as amortizações foram maiores que o crescimento da carteira por conta dos juros mais as novas concessões.

E isso apesar dos anúncios de reduções de taxas.

Os encaminhamentos dados não serão solução para o crédito. Injetar recursos públicos em bancos oficiais é passar a conta aos contribuintes não endividados.

Apenas na semana que passou, foram noticiados aportes da ordem de meio Proer, e pode ser que seja necessário mais. Atribuir a culpa a fraudes é ignorar o que levou a tal comportamento.

Aumentar o pagamento mínimo do cartão terá como impacto imediato agravar ainda mais a inadimplência.

Insiste-se no erro, numa visão equivocada de como funciona a intermediação. O custo para o país é gigantesco.

Além das centenas de milhões de reais perdidos com a intervenção nos três bancos, há centenas de bilhões que estão sendo dissipados em crescimento menor.

O sistema financeiro poderia dar uma contribuição significativa para o país e está se tornando um freio.

O que fazer? A solução é complexa, mas inclui: 1) eliminar IOF, os compulsórios, os pastinhas e os ruídos na informação, 2) dar um choque de transparência, 3) fazer o cadastro positivo interativo, 4) criar uma agenda do crédito, 5) modernizar o quadro institucional, 6) adotar uma política de inclusão financeira, remover o entulho inflacionário. Enfim, fazer uma adequação da intermediação à nova realidade. É algo que só depende do Poder Executivo.

ROBERTO LUIS TROSTER é consultor e doutor em economia pela USP e foi economista chefe da Febraban e da ABBC e professor da USP e PUC-SP.

robertotroster@uol.com.br

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