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CRÍTICA economia

Desigualdade derruba chance de ascensão social nos EUA

Com estudos e números, livro mostra que país não é mais terra das oportunidades

Justin Sullivan - 17.set.2012/Getty Images/France Presse
Protesto na Califórnia em comemoração ao Occupy Wall Street, que fez um ano
Protesto na Califórnia em comemoração ao Occupy Wall Street, que fez um ano

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

Os Estados Unidos deixaram de ser a terra das oportunidades. A desigualdade entre ricos e pobres aumentou e as chances de ascensão encolheram. Nascer em uma família rica é fundamental para se ter um lugar entre os abastados.

Nem sempre foi assim. Em meados do século passado, a mobilidade social era maior, a classe média avançou, os salários cresceram e os lucros minguaram. Os ganhos dos mais ricos tiveram um freio.

Para destrinchar esse movimento, Timothy Noah escreve "The Great Divergence", reunindo estudos acadêmicos, muita estatística e opiniões de economistas. Jornalista, o autor é colunista da revista americana "The New Republic" e atuou na publicação eletrônica "Slate".

Noah começa sua narrativa no início do século 20, quando a fatia de renda do 1% mais rico da população girava em torno de 15% (em 2007 tinha subido para 24%). Depois do aperto do crash de 1929, os rendimentos começaram a crescer de forma mais igual a partir de 1934.

Foram os anos Roosevelt, com estímulo à indústria e implantação de salário mínimo. Com a Segunda Guerra Mundial, a mudança na direção de uma desigualdade menor foi intensificada.

O movimento sindical se tornou atuante e trabalhadores conquistaram fatia maior na renda nacional.

Esse período de prosperidade é chamado de "era da grande compressão". A parcela da renda nacional do 1% mais rico caiu de 11% em 1965 para 9% em 1975. A partir de 1979, o movimento se inverteu e a concentração foi se ampliando -começou "a grande divergência".

De 1980 a 2005, 80% do crescimento da renda americana foi para o 1% mais rico, contabiliza Noah.

Em nenhum outro lugar do mundo essa fatia dos mais endinheirados cresceu tanto. Hoje os EUA são mais desiguais que países como Venezuela, Uruguai e Nicarágua.

Na busca das causas desse processo, o jornalista mostra como os custos (de habitação, escola, saúde) foram crescendo para a classe média, fazendo-a encolher. Metade das famílias chefiadas por uma só pessoa (geralmente mulheres) estão ou estão próximas da pobreza -uma parcela maior do que, por exemplo, na Alemanha (34%).

A desindustrialização, com transferência de manufaturas para a Ásia, explica uma boa parte do movimento. "Os empregos foram para o exterior; o dinheiro, não", lembra o autor.

Ele anota que, em 2010, o custo de mão de obra significava apenas 5,3% do preço de venda de um iPhone e 7% de um iPad. Já o lucro da Apple representava 59% do preço de um iPhone e 30% do de um iPad.

O autor relata a ascensão do poder financeiro. "Wall Street comeu a economia", afirma. Cita a General Eletric como um exemplo: em 1980 a parte industrial da empresa representava 92% de seus lucros; em 2008 a parte financeira somava 56% dos lucros.

SOLUÇÃO

As saídas para atacar a desigualdade? Noah sugere alguns pontos: estabelecer um regime progressivo de impostos, aumentar gastos estatais com salários, universalizar a pré-escola, importar mão de obra qualificada, controlar preços de escolas e universidades (os valores deflacionados mais do que dobraram entre 1981 e 2006), regular Wall Street, reavivar o movimento sindical e eleger presidentes democratas (que costumam tomar medidas contra a concentração de renda, diz o autor).

Recheado de números, ele poderia ter aprofundado mais a discussão política sobre as mudanças econômicas e ter apontado mais relações entre a desigualdade galopante a crise atual.

Mesmo com algumas limitações, Noah traça um estarrecedor quadro dos EUA. Nas eleições de novembro, um novo capítulo dessa história.

THE GREAT DIVERGENCE (A GRANDE DIVERGÊNCIA)
AUTOR Timothy Noah
EDITORA Bloomsbury
QUANTO US$ 27 (320 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

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