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Minha História

De açougueiro a rei das carnes

Fundador do JBS, Zé Mineiro, hoje aos 78 anos, chegou a abater um só boi por dia e a matar gado em pleno cerrado, nos anos 50, na sua trajetória para tornar a empresa líder mundial em carnes

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

RESUMO

José Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, entrou no negócio de carnes em 1953, quando abriu um pequeno açougue em Anápolis (Goiás).

Atraído por incentivos fiscais, em 1957 se instalou em Brasília. Anos depois, começaram as aquisições, que transformaram a Casa de Carnes Mineira na JBS, líder mundial em carnes.

Aos 78 anos, Zé Mineiro acompanha de perto os negócios da JBS, que leva no nome as suas iniciais.

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Eu saí de Alfenas, sul de Minas, aos 12 anos de idade com o meu pai, que se mudou para Anápolis, em Goiás.

Depois que saí do Exército, fui trabalhar com o meu irmão. Foi quando começou a parceria nesse negócio de gado. Deu certo.

A gente comprava gado e vendia. Mas eu não entendia nada de peso de boi. Naquela época, você comprava um boi por tanto e vendia por tanto. Não falava em peso.

Tínhamos comprado uma boiada grande, boa, e a gente não sabia ao certo o peso dos bois para vender.

Foi isso o que nos levou a abater boi, para conhecer de peso. É complicado quando você está trabalhando com uma mercadoria que vale o quanto pesa e você não sabe o peso da mercadoria.

O primeiro passo foi montar um açougue em Anápolis, em 1953. Eu ficava no açougue, e meu irmão comprava o gado e mandava para mim.

Como a região era fraca de gado, ele ia mais para longe, para Goiânia, e comprava um gado bom para eu abater.

Comecei a oferecer para os outros açougues, mas lá eu abatia só um boi [por dia]. Então comecei a abater num pequeno matadouro da prefeitura -bem precário, mas era o que tinha. Mas, dentro de 30 dias, estava abatendo 25, 30 bois por dia. Era o principal fornecedor de Anápolis.

Foi ali que me arrumaram o nome de Zé Mineiro. Até 1957, toquei abatendo nesse espaço da prefeitura.

MUDANÇA

Brasília surgiu em 1956 e, no começo de 1955, tinha um movimento de mudança para lá. No início de 1957, a coisa estava bem movimentada.

O Juscelino [Kubitschek] chamando o povo para ajudar a construir Brasília, dando incentivos, ajuda a funcionários, a fornecedores, a todos os segmentos.

Para os fornecedores, ele deu quatro anos seguidos de imposto livre. Foi um chamativo... Além do consumo, que era grande. Tinha muita gente chegando e não tinha nada.

Aí eu corri para Brasília, para fornecer carne lá. Não tinha condição de montar abatedouro, então eu abatia no cerrado. Era o que tinha.

O gado passava 15 dias viajando a pé. Quando chegava, eu começava a abater no cerrado mesmo, no mato. Eu improvisava lá uma coisinha, dava um jeito. Na época, era o que tinha.

Depois a coisa mudou um pouco, começou a chegar carne de fora. E a precariedade de abate foi mudando. Montei uma desossa, e a condição foi melhorando.

Eu não ficava mais no açougue. Cuidava do fornecimento às companhias. Assim foi por um bom tempo. Comecei em 1957 e esse fornecimento foi até 1965 ou 1966.

Em 1969, eu comprei o primeiro frigorífico com SIF [selo de inspeção federal], em Formosa [Goiás]. Até então, não se exigia carne "sifada", mas depois de um tempo começou a se exigir SIF para entrar carne em Brasília.

FAMÍLIA

Daí pra frente a coisa foi acontecendo. A meninada cresceu e foi tomando conta.

Quem me ajudou muito em Formosa foi o Júnior [o filho mais velho]. O Wesley [atual presidente da JBS] assumiu mais tarde um frigorífico em Luziânia [Goiás]. Ele tinha 14 ou 15 anos.

Depois do frigorífico de Luziânia, que abatia 260 cabeças por dia, compramos um frigorífico que já abatia 1.200 bois em Anápolis. Depois em Barra do Garça [MT], Goiânia e assim foi crescendo.

Hoje estou mais na área de pecuária, que é um serviço mais calmo, tranquilo. O mercado de carne exige muito. Eu dou assistência nas fazendas e no confinamento.

Tenho seis filhos -três homens e três mulheres-, e todos trabalham com a gente. Isso dá tranquilidade.

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