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Samuel Pessôa

Recuperação sem investimento

Quando saírem os dados do 3º trimestre, veremos um padrão de crescimento ainda calcado no consumo

O IBGE divulgou na última terça-feira o resultado da PIM (Pesquisa Industrial Mensal) referente ao mês de agosto. Em que pese o resultado muito ruim da indústria no ano -o nível de agosto de 2012 foi 1,9% abaixo do de agosto de 2011 e, na média do período de janeiro até agosto de 2012, a indústria esteve 3,4% abaixo do mesmo período do ano anterior-, o setor apresentou sinais de recuperação.

Na comparação de um mês com o mês imediatamente anterior (o que requer o emprego da série com ajuste sazonal), após as quedas em março, abril e maio, respectivamente de 0,7%, 0,3% e 0,8%, a indústria recupera-se lentamente, com crescimento em junho, julho e agosto, respectivamente, de 0,2%, 0,5% e 1,5%, sempre ante o mês anterior.

A retomada, apesar de não ser brilhante parece ser consistente, como indicam os níveis crescentes das taxas desde o vale em maio.

As taxas de crescimento reportadas nos parágrafos anteriores referem-se à indústria geral. Se excluirmos da indústria geral a indústria extrativa mineral e a construção civil, restará a indústria de transformação, responsável por mais de 50% da adição de valor na indústria geral.

Os números reportados pela PIM para a indústria de transformação contam a mesma história.

Após o crescimento negativo em março, abril e maio, respectivamente de 0,8%, 0,4% e 1,0%, ela volta a crescer em junho, julho e agosto, respectivamente, 0,4%, 0,4% e 1,6%.

Adicionalmente, o crescimento de 2% da indústria de bens intermediários em agosto ante julho sugere que ocorre maior disseminação do crescimento nos diversos setores de atividade da indústria.

No entanto, dois dados referentes à divulgação de terça-feira passada preocupam.

Primeiro, a categoria de uso que apresentou a maior taxa de crescimento foi a indústria de bens de consumo durável, cuja retomada é muito dependente de políticas específicas e transitórias de desoneração.

Há sempre o risco de um recuo maior quando as políticas forem descontinuadas e/ou quando o consumidor já tiver renovado seu estoque dessa modalidade de bem.

O segundo fator que preocupa no padrão de recuperação da indústria em agosto foi a baixa recuperação da categoria de uso bem de capital.

Crescimento de 0,3% ante o mês de julho, crescimento negativo de 13% ante agosto de 2011 e crescimento negativo em 12% no período de janeiro até agosto de 2012 em comparação ao mesmo período de 2011.

Parece que temos um padrão de retomada do crescimento ainda muito dependente do consumo.

Evidentemente esses dados referem-se ao passado. O que podemos afirmar com relação aos próximos meses?

Um bom indicador é a pesquisa qualitativa da sondagem da indústria produzida pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.

Segundo a pesquisa, em setembro a maior parte das empresas do setor de bens de capital previa redução na demanda por seus produtos. A mesma pesquisa apontou forte acumulação de estoques indesejados por parte das empresas do setor de bens de capital.

É possível que essa acumulação em setembro seja fruto de oscilação natural da pesquisa. No entanto, se houver confirmação em outubro dessa tendência, trata-se de péssimo sinal para a retomada da economia.

Finalmente, o indicador de expectativa para o setor de bens de capital, apesar das subidas nos últimos dois meses, aponta que a maior parte das empresas prevê piora dos negócios nos próximos seis meses.

A conclusão é que, quando o

IBGE divulgar em dezembro de 2012 os dados das contas nacionais trimestrais referentes ao terceiro trimestre de 2012, descobriremos que ainda teremos um padrão de crescimento calcado no consumo.

A retomada do investimento ficou para o quarto trimestre de 2012 ou provavelmente para 2013.

Não é possível descartar um cenário no qual o investimento privado não se recupere no ano que vem e a economia fique cada vez mais dependente de uma retomada dos investimentos em infraestrutura para que o investimento como um todo retome.

SAMUEL PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da FGV. Escreve aos domingos nesta coluna.

COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsman; quinta: Marcelo Miterhof; sexta: Luiz Carlos Mendonça de Barros; sábado: Kátia Abreu; domingo: Samuel Pessôa

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