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Finanças pessoais

MARCIA DESSEN marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Os custos e os riscos dos planos de previdência complementar

Já conversamos sobre a escolha do produto (PGBL ou VGBL) e do regime de tributação (tabela progressiva ou regressiva) mais adequados ao seu perfil tributário. Para completar esta pequena série de artigos sobre produtos de previdência complementar, vale a pena abordarmos quais são os riscos e custos.

RISCOS

Risco da seguradora: os produtos PGBL e VGBL são comercializados por seguradoras, sendo regulados e fiscalizados pela Susep (Superintendência de Seguros Privados). Durante a fase de acumulação de capital, o dinheiro que você deposita fica aplicado em um fundo de investimento. Ele tem uma diferença importante. Como é um fundo "exclusivo", a seguradora é o único cotista, enquanto, no caso dos fundos tradicionais, você e os outros milhares de investidores, são os cotistas do fundo.

Na prática, significa que não é você e sim a seguradora que detém os direitos sobre os ativos da carteira do fundo. Se a seguradora quebrar, será muito difícil separar o dinheiro dela do seu. Para gerenciar e reduzir esse risco, existe o mecanismo da portabilidade, que permite transferir seu capital para outra seguradora.

Riscos financeiros: você decide o tipo de fundo onde vai aplicar o dinheiro na fase de acumulação do capital. Eles têm políticas de investimento diferentes:

Fundos "soberanos" investem exclusivamente em títulos públicos, com risco de crédito menor -a rentabilidade tende a ser menor.

Fundos de "renda fixa" investem em títulos públicos e privados. O risco de crédito, derivado dos títulos privados, visa aumentar a rentabilidade. Os títulos pagam taxa pré e pós-fixada e, em alguns casos, acompanham a variação de índices de inflação.

Finalmente, existem fundos "compostos", que podem investir até 49% da carteira em ações. Não existe garantia de rentabilidade, ela será a que for obtida pelas escolhas e competência do gestor da carteira, depois de deduzida a taxa de administração.

Lembre-se de ajustar sua expectativa de rentabilidade ao perfil de risco e aos custos.

CUSTOS

Taxa de Carregamento: é paga à seguradora, uma única vez, sobre o valor de cada depósito, e remunera o serviço de gestão do plano. Pode ser cobrada na entrada, situação mais comum, ou na saída. Verifique as condições específicas do seu contrato.

Essa taxa pode ser igual a zero no caso de aportes de capital elevados ou quando o capital permanece por uma quantidade mínima de tempo.

Taxa de Administração: é paga anualmente, sobre o valor do capital corrigido, e remunera o serviço de administração e gestão do fundo exclusivo que gera seus rendimentos ao longo do tempo. Essa é a taxa que merece sua atenção. Embora ela seja, normalmente, menor do que a taxa de carregamento, ela é cobrada todos os anos e pode inviabilizar seu objetivo de atingir determinado montante em certo espaço de tempo.

Exemplo: vamos supor um aporte único de R$ 10 mil com horizonte de dez anos, em um plano que cobra 4% de taxa de carregamento e 2% de taxa de administração. Você paga R$ 400 (4% de R$ 10 mil) e aplica no fundo de investimento o saldo de R$ 9.600.

Daqui a dez anos, terá pago R$ 1.920 de taxa de administração (2% de R$ 9.600 em dez anos). Em 20 anos, 40% do dinheiro que depositou será da seguradora.

Quando a taxa de juros era generosa e proporcionava retorno de 20% ao ano, essa taxa de administração de 2% ao ano correspondia a 10% do retorno do investimento.

No patamar atual de juros, de 7,5% ao ano, corresponde a 27% do seu retorno. Complicado, não é? Tem três coisas que você pode fazer:

a) Negociar uma redução de custos, migrando para um plano com taxas mais compatíveis com seu potencial de investimento.

b) Pesquisar a política de preço de outras seguradoras em busca de um produto com melhor relação custo benefício; na sequência, solicite a portabilidade do plano.

c) Analisar outras alternativas de investimento, como o Tesouro Direto, que opera com custos bem menores.

Garantia de IGP-M + 6% a.a.

No passado, eram comercializados planos que garantiam rentabilidade mínima da variação do IGP-M mais juros de 6% ao ano. Bom demais para ser verdade! Tão bom, que deixaram de ser vendidos.

Por quê? Porque colocam em risco a capacidade de pagamento das seguradoras. Como ela é obrigada a pagar essa rentabilidade, precisa obter um retorno, no mínimo, idêntico. Acontece que, há algum tempo, os ativos disponíveis no mercado não pagam essa rentabilidade tão generosa.

Mas os contratos antigos devem ser honrados. Se você resistiu à pressão da seguradora para migrar para outro plano e ainda mantém o seu, aguente firme. Esses contratos cobram taxa de carregamento muito alta, cerca de 9% ao ano. Mas como vimos, essa taxa é paga uma única vez e não é a vilã da história. Mantenha esse plano pelo maior tempo possível, o benefício compensa.

Dicas que valem dinheiro

1 Verifique os custos com atenção antes de comprar um produto de previdência complementar. Se forem muito elevados, podem derrubar sua estratégia de pagar menos imposto, por exemplo.

2 A rentabilidade divulgada pela instituição financeira é bruta. As taxas devidas à seguradora foram descontadas, mas o IR ainda não foi pago. Significa que o valor informado que entra no seu bolso na hora do resgate é menor.

3 A portabilidade é feita sem custos e não interrompe a contagem do tempo para efeito do IR. Não deixe de utilizar a seu favor.

MARCIA DESSEN, certified financial planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.
@bmibrasil

COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsman; quinta: Marcelo Miterhof; sexta: Rodolfo Landim; sábado: Kátia Abreu; domingo: Samuel Pessôa

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