Índice geral Mercado
Mercado
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Análise

Trabalho temporário não precisa ter condições precárias

CLEMENTE GANZ LÚCIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

MULHERES QUE NÃO ENTRARAM NO MERCADO, DESEMPREGADOS COM QUALIFICAÇÃO BAIXA E JOVENS SÃO CANDIDATOS NATURAIS Às VAGAS TEMPORÁRIAS

A dinâmica econômica gera, por diferentes razões, oscilação regular no tempo e na demanda de trabalho.

Isso ocorre, por exemplo, na agricultura, quando do corte da cana-de-açúcar ou na colheita da laranja ou de qualquer outra cultura.

No final de ano, Natal e Ano Novo normalmente têm forte impacto sobre o setor do comércio. Na sequência, vêm o clássico período de férias escolares, os recessos nas empresas e a concentração de férias laborais.

Praias, serras e estâncias recebem milhões de pessoas que aumentam a demanda de trabalho no setor de serviços, transportes etc. Anualmente, ciclos como esses se repetem.

Milhões de trabalhadores mobilizam-se para atender a essas demandas em diferentes contextos.

Em períodos de crise, de desemprego e de baixa atividade econômica, essas ocupações são uma rara oportunidade para obter algum rendimento.

O trabalho temporário, nesse contexto, é uma alternativa para os desempregados que, sem opção, aceitam o que lhes é oferecido.

Atualmente, o país vive em outro cenário. Desemprego em queda, atividade econômica com dinâmica de crescimento e aumento da contratação. Os desempregados mais qualificados, de maneira geral, estão ocupados.

Jovens, desempregados com menor nível de qualificação e mulheres que não entraram no mercado de trabalho ou têm participação intermitente são candidatos naturais para ocupar as vagas temporárias.

Trata-se de uma chance de entrar no mercado de trabalho, adquirir alguma experiência, fazer um "pé-de-meia" para sobreviver nos meses seguintes, uma oportunidade para o primeiro emprego ou para o aprendizado ou treinamento.

As empresas usam esse contrato temporário para treinar e selecionar aqueles que permanecerão depois que a demanda refluir.

No comércio, observa-se que o refluxo ocorre a partir de fevereiro, pois janeiro tem se consolidado como o mês das ofertas e do esvaziamento dos estoques.

No setor de turismo, os desligamentos começam após o Carnaval e vão até depois da Páscoa.

Nos dois casos, comércio e turismo, devido ao volume de trabalho, podem ser geradas jornadas de trabalho longas e extenuantes.

Em muitas situações, as condições de trabalho são precárias, falta transporte para o deslocamento para casa, as refeições carecem de qualidade, o estresse é grande.

É sabido que essa movimentação de trabalhadores é importante para a economia, mas há necessidade de implementar e garantir que haja regulação das condições de trabalho e que sejam coibidas práticas que as aviltem, assim como sejam assegurados salários justos e benefícios.

É sempre um desafio realizar trabalho temporário, promovendo-o de forma protegida e decente.

CLEMENTE GANZ LÚCIO é diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos).

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.