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Vinicius Torres Freire

Elites desanimadas

Lideranças da área econômica dos países mais importantes parecem pessimistas sobre 2013

NESTA SEMANA ocorre uma espécie de pesquisa de opinião entre comanda a política da economia mundial. As opiniões estão mais lúgubres do que era de esperar.

Houve o encontro de ministros da Economia, banqueiros centrais e correlatos -o encontro do FMI, em Tóquio, no fim de semana que passou. Na quinta, vem o encontro de cúpula da União Europeia. Ministros dão entrevistas, falam nas reuniões, vazam recados uns para os outros por meio da mídia.

No mundo rico, os americanos estão mais otimistas. Estão de fato em situação melhor. Estima-se que possam crescer uns 2% neste ano e 2,5% em 2013, quatro ou cinco vezes mais rápido do que a eurozona. Mas as previsões já foram mais animadas.

O que incomoda todo mundo é o dito "abismo fiscal". A partir de janeiro de 2013, pode haver um corte de cerca de US$ 600 bilhões na receita federal, mais ou menos um quarto do que o governo arrecada.

Até o fim do ano vencem isenções/cortes de impostos e entra em vigor um corte automático de despesas. Por um lado, tal talho reduziria rapidinho o deficit do governo federal. Por outro, joga o país em recessão, segundo a maioria das estimativas.

O Congresso tem 12 semanas para resolver o rolo. O palpite geral é que vai ser dar um jeitinho americano. Mesmo assim, enquanto a novela não acaba, ela não termina: serão dias animados de paniquito.

Os europeus, por sua vez, estavam meio conformados com sua recessão deste ano e estagnação de 2013 (crescimento de 0,5%, por aí). Mas do encontro de Tóquio às escaramuças preliminares da cúpula desta semana a gente tem ouvido coisa bem pior.

Primeiro, voltou a se discutir pública e diretamente a saída da Grécia da zona do euro, tendo havido mesmo gente que desse prazo: nos próximos seis meses.

Segundo, alertou-se para o fato de que o prazo da Espanha está acabando. Os espanhóis saíram de uma situação crítica, de juros em alta fulminante, devido à promessa do Banco Central Europeu (BCE) de lhes dar uma mãozinha.

Mas o BCE apenas compraria títulos da dívida espanhola (ajudando a baixar juros) se o governo pedisse um socorro formal à União Europeia, submetendo-se a um programa de arrocho ainda maior do que aquele que já está em curso por lá. A Espanha se finge de morta, aproveitando a breve bonança.

Terceiro, estão cada vez mais amargas e pesadas as críticas contra a linha geral da política econômica alemã para a Europa.

O programa de redução de deficit e dívidas (além de reformas "liberais") é recessivo, bidu, mas mais do que se imaginava, apontam a prática e novos estudos sobre o assunto. Se as economias não crescem, a receita dos governos também não. Dívidas e deficit ficam em geral cada vez maiores, como proporção do PIB.

O vozerio nas cúpulas econômicas dá a impressão de que paciência com o arrocho está acabando. Até o FMI sugere políticas menos agressivas de redução de dívidas.

Quarto, até a dupla dinâmica, China e Índia, tornou-se uma incógnita: está certo que crescerão menos, a caminho de uma "normalização" econômica, mas quanto menos?

2013 vai ser outro ano de vento contrário. Que vai soprar no Brasil também.

vinit@uol.com.br

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