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Gás de xisto ainda não sai das rochas no país

Brasil seria dono da nona maior reserva mundial, mas negócio, em crescimento nos EUA, engatinha no país

Indústria teme os efeitos no Brasil da expansão da indústria química e petroquímica dos Estados Unidos

DENISE LUNA
DO RIO
AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

O Brasil está atrasado na corrida mundial pela exploração comercial do gás de xisto, também chamado de gás não convencional, encontrado em rochas subterrâneas.

O governo dos Estados Unidos afirma que o Brasil tem a nona reserva mundial, com 226 tcf (trilhões de pés cúbicos), número não endossado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Enquanto o assunto engatinha no Brasil, a indústria química e petroquímica local teme pelo seu futuro. As enormes reservas norte-americanas (826 tcf) derrubaram os preços lá ao nível de um quarto do valor cobrado no Brasil.

Segundo a KPMG, o negócio ganhou tal dimensão que os Estados Unidos podem deixar de ser importadores e se tornar exportadores.

Não é só isso. Com tamanha reserva, o gás de xisto já fez mais: ressuscitou a indústria química e petroquímica americana, que volta a ser um concorrente brasileiro.

Segundo o professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, Alexandre Szklo, o preço baixo cobrado pelo gás nos EUA se deve à existência de uma grande rede de gasodutos já amortizada e à ação de pequenas empresas de tecnologia na pesquisa do gás de xisto.

Além disso, os EUA conseguiram resolver a questão ambiental em alguns Estados, um dos entraves para o desenvolvimento do negócio, já que, para retirar o combustível das rochas, é preciso bombardeá-las com muita água e produtos químicos.

"A parte química corresponde a 5% do que é usado para fraturar o xisto, mas é preciso ver se isso contamina o lençol freático", disse Szklo. Segundo ele, o Brasil ainda tem que pesquisar muito antes de entrar no gás de xisto.

A produção de gás não convencional no Brasil praticamente inexiste. A única exploração aqui é feita pela Petrobras, no município de São Mateus do Sul (PR). A estatal produz apenas 130 mil metros cúbicos de gás por dia.

O Brasil tem consumo diário de 49 milhões de metros cúbicos por dia.

AMEAÇA

Diante dessa situação, até o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), prometido para ser instalado em Itaboraí, está ameaçado.

"O complexo petroquímico brasileiro produz 4 milhões de toneladas de eteno [primeiro insumo da cadeia do plástico]. Apenas os projetos de gás de xisto nos EUA somam 11 milhões de toneladas de eteno", afirma Henri Slezynger, presidente do Conselho da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química).

Os investimentos lá somam US$ 30 bilhões. Os investimentos aqui estão congelados, mas poderiam alcançar US$ 10 bilhões, diz a Abiquim, se houvesse oferta de gás para o setor industrial.

A Lei do Gás no Brasil é de março de 2009. Apesar de a lei prever o uso do insumo como matéria-prima, o governo federal e a Petrobras ainda estão discutindo uma política de preços que torne realidade a letra da lei.

Essa decisão, segundo Graça Foster, presidente da Petrobras, pode garantir o projeto do Comperj.

Paulo Pedrosa, presidente da Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia), afirma que o governo poderia liberar a exploração do gás não convencional pelo setor privado e, assim, abrir o mercado brasileiro, hoje concentrado nas mãos da Petrobras.

Essa política faz que apenas 4% do gás natural consumido no país seja convertido em produtos na indústria de transformação. O atraso brasileiro não é pequeno. Nem o destino do gás convencional tem solução ainda.

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