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Sociais & Cia

Fundações e institutos de origem familiar se multiplicam no país

Fenômeno é atribuído ao maior número de milionários e à demanda por profissionalizar a ação social

Modelo beneficia causas como direitos humanos de presos, em que há menos interesse de institutos corporativos

ANDRÉ PALHANO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O cenário do investimento social privado no Brasil passa por uma transformação: a multiplicação de fundações e institutos de origem familiar, que começam a ganhar terreno num segmento até há bem pouco tempo dominado por organizações ligadas ao segmento empresarial.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, trata-se de um fenômeno recente, alimentado pelo incremento de novos milionários -e bilionários- na economia brasileira, em linha com o processo de globalização e abertura de capital das empresas nos últimos anos.

Some-se a isso a demanda por profissionalização na ação social das famílias com tradição filantrópica, o que envolve questões que vão desde a sucessão e a governança até a própria sustentabilidade financeira de organizações e projetos apoiados.

"Estamos vivendo um boom inédito do investimento social privado familiar, que tende a crescer mais nos próximos anos", diz o diretor-executivo do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), Fernando Rossetti.

Há diversos modelos. Institutos e fundações associados a empresas que passam para a mão das famílias após processos de fusão e aquisição (caso do Instituto Unibanco, da família Moreira Salles), organizações ligadas a empresários que abriram o capital de suas companhias (caso da família Leal, da Natura) e as que estão sendo criadas do zero, como a de Ronaldo.

Quem ganha são as causas sociais que tratam de temas polêmicos, por exemplo as ligadas a direitos humanos de presos ou à violência associada às drogas, que dificilmente encontram interesse por parte de institutos ou fundações corporativas.

MARKETING

"O investimento social de origem corporativa, especialmente nas companhias de capital aberto, está alinhado com a estratégia de marketing e visibilidade da própria empresa. No caso do investimento social familiar, há uma maior independência", diz Paula Fabiani, diretora-executiva do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social).

CRIANÇA

Um bom exemplo é o Instituto Alana, que tem como principais mantenedores os irmãos Ana Lúcia e Alfredo Egydio Villela, dois dos principais acionistas da holding Itaúsa, que controla, entre outros, o Itaú-Unibanco.

O Alana (fusão dos nomes dos dois irmãos) tem como principal missão a defesa do bem-estar da criança, especialmente no que se refere à publicidade e ao consumo orientado para esse público. O que inclui o enfrentamento direto com empresas de vários segmentos em órgãos de defesa do consumidor.

"Dificilmente uma fundação de origem empresarial teria a liberdade que temos para tratar de temas tão espinhosos", diz Isabella Henriques, diretora da área de Defesa e Futuro do instituto.

DESAFIOS

O crescimento do investimento social familiar no Brasil também traz desafios específicos para esse grupo, entre eles a falta de estímulo tributário para as doações filantrópicas (ao contrário do que ocorre, por exemplo, nos EUA) e a preocupação com a sustentabilidade das próprias fundações e institutos, que muitas vezes são encerradas ou perdem força com a morte de seu fundador.

Como as expectativas apontam para um crescimento expressivo no número de milionários no país nos próximos anos (o Credit Suisse, por exemplo, estima que esse público mais do que dobrará até 2017), isso não embola a tendência de um crescimento ainda maior da fatia de investimento social de origem familiar.

"É um cenário semelhante ao que ocorreu há cem anos nos EUA, quando foram criadas as grandes fundações de origem familiar que atuam até hoje, como a Ford, a Rockfeller e a W.K Kellogg", afirma Rossetti, do Gife.

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