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Vinicius Torres Freire Ao prefeito, sem carinho Candidatos nem têm ideias ambiciosas nem apresentam projetos detalhados para o essencial O EINSTEIN, o hospital em São Paulo, gasta R$ 1,2 bilhão para cuidar de 220 mil pessoas. Administra o hospital municipal do M'Boi Mirim, periferia. Tem R$ 150 milhões para cuidar de quase 1 milhão de pessoas. É o que contou na Folha de sexta-feira o presidente do Einstein, Claudio Lottenberg. O médico comentava picuinhas dos prefeituráveis sobre as instituições privadas para as quais a prefeitura terceirizou a administração de serviços de saúde. Transformar a rede pública, ou mesmo privada, de hospitais de qualquer país do mundo em Einsteins não dá pé, claro. Este colunista, ora nos EUA, quebrou a perna e foi operado na rica Boston, no rico "hospital das clínicas" da rica Universidade Harvard. Não era um Einstein. E daí? Daí que a "polarização" Einstein-M'Boi Mirim mostra o tamanho do problema e a conversinha da eleição. A prefeitura não tem nem terá dinheiro para dar conta de uma fração da conversa mole dos candidatos. Sim, sempre é possível reduzir custos, ainda mais em governos brasileiros. Mas deveria ser rotina e resulta no máximo em gorjeta, 10%. O grosso do dinheiro escoa pela conta de salários e aposentadorias (nem tão grande em São Paulo), de custos financeiros e de custeio. Na prática, cerca de três quartos do orçamento de R$ 38,4 bilhões deste ano estão carimbados. Apenas em despesas de pessoal e dívida vão embora uns 40% do orçamento. O custeio é alto. Fazer uma escola ou hospital custa "x". Manter o hospital ou a escola operando custa uns 80% de "x", por ano. Logo, colocar crianças em escola de tempo integral e tirar os doentes da fila, programas essenciais, tende a esgotar os recursos da prefeitura. A prefeitura gasta mais de R$ 800 milhões para subsidiar a passagem de ônibus, que mesmo assim é quase tão cara quanto aqui em Boston-Cambridge (R$ 3,40). Melhore-se o transporte público (o que custa muito investimento), outro programa essencial. Vai haver mais viagens de ônibus, mais subsídio. O que fazer? Inventar dinheiro. São Paulo tem uma dívida abissal, com custos que equivalem ao valor do investimento anual da prefeitura. Se fosse possível arrumar algum esquema para, por exemplo, a cidade pegar empréstimos no exterior, sobraria mais dinheiro. Mas São Paulo não pode fazer dívida alguma. A dívida é um problema tão prioritário como dar um jeito de as crianças aprenderem aritmética e leitura. Outro jeito de inventar dinheiro é criar projetos que induzam empresários a investir em transformação urbana (como seria o caso desse fracasso da Cracolândia) ou a criar novos negócios, o que indiretamente melhora a vida da cidade inteira. Um prefeito faria diferença se produzisse essas inovações institucionais importantes, que desafogassem o orçamento e a organização urbana falida de São Paulo. Essa lenga-lenga de "administrador" ou de "prefeito da cidade solidária" é conversinha. A gente precisa de grandeza, algumas ideias malucas e enormes e projetos detalhados no essencial (mudar a aula das crianças, evitar que os médicos cabulem plantões, oferecer mais ônibus). De resto, não há dinheiro ou tempo para mais nada. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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