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Operação evita que BNDES tenha comando da Marfrig

Estatal decide adiar conversão integral em ações de aporte de R$ 2,5 bi

Analistas estimam que perda do BNDES tenha sido de R$ 1 bi; banco continuará a receber juros da empresa

JULIO WIZIACK DE SÃO PAULO

O plano de internacionalização dos frigoríficos nacionais deixou o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em uma situação complicada.

Há cerca de duas semanas, o BNDES decidiu abrir mão de assumir o controle da Marfrig, que, com recursos do banco, tornou-se uma das maiores do mundo em alimentos processados.

Em 2010, após a compra de 14 empresas no Brasil e no exterior, a Marfrig, dona de marcas como Seara e Da Granja, fechou um contrato com o BNDES em que recebia à vista R$ 2,5 bilhões. Esse dinheiro seria convertido em ações para o banco estatal em 2015.

O acordo prevê que haja conversão automática dos papéis antes de 2015 caso a Marfrig venha a fazer aumento de capital. Isso para evitar que o BNDES seja diluído na companhia -o banco tem participação de 14%, adquirida em operações anteriores.

Na semana passada, a Marfrig anunciou que fará uma nova oferta de ações ao mercado para captar até R$ 1,5 bilhão ainda neste ano.

Com uma dívida de R$ 12 bilhões, dos quais 27% vencem em 2013, a empresa precisa de reforço de caixa para reverter a desvalorização de seus papéis na Bolsa.

Hoje, ela vale R$ 3,7 bilhões e, nas estimativas do BNDES, poderá valer tanto quanto a concorrente Brasil Foods (cerca de R$ 32 bilhões) caso consiga equacionar sua dívida de curto prazo.

A relação entre o valor de uma companhia e sua dívida é usada como parâmetro na avaliação do negócio. Hoje, essa proporção é de 1,4 para a Brasil Foods e de 4 para a Marfrig. A média internacional do setor é 1,0.

A meta da Marfrig é trazer sua média rapidamente para 3,0 e chegar a 1,4 antes de 2015. O primeiro passo para implementar esse plano foi dado há alguns meses com a busca de investidores para a Seara. A ideia foi abandonada e preferiu-se uma nova emissão de papéis.

Mas a estratégia só daria certo com uma solução para o impasse com o BNDES.

De um lado, o banco não queria exercer o direito de conversão das ações (referentes ao contrato de R$ 2,5 bilhões) porque não é seu papel controlar e gerir empresas. De outro, o presidente da Marfrig, Marcos Molina, não queria entregar o comando.

DRIBLADA

Até então, a empresa vinha sendo assessorada pelo Itaú, que estruturou a operação financeira de R$ 2,5 bilhões.

Surpreendentemente, o Merrill Lynch surgiu com uma solução: para não perder participação na empresa, o BNDES converteria só um terço das ações aderindo à nova oferta de papéis e converteria o restante pelo acordo de R$ 2,5 bilhões, em 2015. O negócio então foi fechado.

Analistas estimam que a perda do BNDES nessa transação tenha sido de aproximadamente R$ 1 bilhão, porque a conversão no contrato de R$ 2,5 bilhões seria a R$ 24,50 por ação e a nova emissão ocorrerá a preço de mercado (cerca de R$ 11).

Para o BNDES, a conta não é tão simples. O banco está deixando de ganhar algum dinheiro neste momento, mas continuará recebendo juros.

Em dois anos, foram pagos pela Marfrig R$ 560 milhões em juros, e o BNDES preferiu manter esse fluxo até o fim do contrato, quando converterá as ações restantes.

PUNIÇÃO

Outro ponto que o banco levou em consideração foi a contratação de Sérgio Rial, ex-diretor de Finanças da Cargill, para o posto de presidente da Seara. Rial consolidou a posição da Cargill como competidor global de alimentos e assumirá a presidência da Marfrig em um ano.

O BNDES decidiu, então, dar uma segunda chance e adiar a conversão total. Nessa negociação, Molina perderá R$ 150 milhões, o que considera, segundo amigos, uma "punição". No final, sua participação na Marfrig cairá de 49% para 40%.

Procuradas, as empresas e o BNDES não quiseram se pronunciar.


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