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Empresa sucateou 1.354 km de cabos

Governo federal, responsável pelo patrimônio, cobra na Justiça indenização de R$ 28 mi de concessionária

Ação condenou de vez o transporte ferroviário de passageiros em São Paulo; agora, Estado estuda novo sistema

AGNALDO BRITO
DE SÃO PAULO

A Ferroban (Ferrovia Bandeirantes S.A.), concessionária que assumiu a malha paulista da Rede Ferroviária Federal na privatização de 1998, transformou 1.354 quilômetros de cabos de energia de alto valor de mercado (de materiais como alumínio e cobre) em sucata.
A malha paulista é controlada hoje pela ALL (América Latina Logística).
A história revela um roteiro de descontrole e abandono de importante patrimônio de uso público.
Esses cabos de energia faziam parte da chamada rede aérea, o sistema que servia ao suprimento de eletricidade para as locomotivas elétricas usadas no transporte ferroviário de passageiros em São Paulo. Essa é a mesma infraestrutura que ainda hoje funciona na capital.
Em 1971, esse mesmo sistema construído e operado pela então Fepasa (Ferrovia Paulista S.A.) transportava 13 milhões de passageiros por ano no Estado.
Com o desmonte do sistema, o transporte ferroviário de passageiros no território paulista inviabilizou-se de vez.
Estima-se que mais de 80 locomotivas elétricas estejam largadas e sendo consumidas pelo tempo em pátios Estado afora. Esses mesmos equipamentos foram postos à venda como sucata em leilão suspenso recentemente pelo Ministério dos Transportes.

PLANOS DO GOVERNO
Ao mesmo tempo em que ainda se revelam casos de destruição de patrimônio ferroviário, a mesma ferrovia faz parte dos planos de governo.
São Paulo estuda criar novo sistema de transporte para ligar a capital às regiões de Campinas, Santos, Sorocaba e São José dos Campos.
São as regiões que um dia foram atendidas pela estrutura sucateada após a privatização da Fepasa.
Documentos obtidos pela Folha revelam a incapacidade da extinta RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) de impor controle sobre o material que foi repassado às concessionárias na privatização.
Engenheiros da RFFSA autorizaram a retirada dos cabos metálicos que formavam a rede aérea.
A Ferroban havia sido orientada, segundo documentos, a rebobinar os cabos para reutilização.
Nessa condição, o material teria valor de R$ 28,2 milhões, segundo cálculos feitos pela Rede à época.
A Ferroban não cumpriu essa determinação e cortou os cabos em tamanhos médios de três metros.
A falta de controle pode ter facilitado o desvio de toneladas de cobre, alumínio e aço para o mercado ilegal de sucatas, que, em parte, abastece o setor siderúrgico.
Inquérito da Polícia Federal de Piracicaba já identificou uma suposta organização criminosa especializada em desvio de toneladas de material ferroviário para a produção de vergalhões.
Em nota, a Rede Ferroviária Federal informou à Folha que os cabos recuperados após o corte foram a leilão, já como sucata, em 27 de junho de 2002. A venda gerou receita de R$ 12,090 milhões -R$ 16,1 milhões abaixo do cálculo feito pela Rede.
Em 2003, a RFFSA ajuizou uma ação em que pedia indenização de R$ 28 milhões à Ferroban, hoje ALL. A ação ainda corre na Justiça.

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