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Mercado

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Análise

É preciso discutir os limites dos mercados em questões morais

MICHAEL J. SANDEL ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

Hoje, há muito pouca coisa que o dinheiro não pode comprar. Se você quer assistir a uma audiência no Congresso dos EUA, mas não quer passar horas na fila para garantir o lugar, pode recorrer aos serviços de uma empresa que fica na fila por você.

Será que existe algo de errado com a compra e venda dessas coisas? Há quem diga que não. As pessoas deveriam estar autorizadas a comprar o que quer que alguém esteja interessado em vender.

Outros acreditam que há coisas que o dinheiro não deveria poder comprar. Mas o quê? O que exatamente há de errado com a contratação de pessoas que fiquem na fila no lugar do pagante?

Para responder a perguntas como essa, precisamos propor uma pergunta maior: que papel o dinheiro e os mercados deveriam desempenhar em uma boa sociedade?

Quase sem percebermos, derivamos da posição de economias de mercado para a de sociedades de mercado.

A diferença é essa: uma economia de mercado é uma ferramenta para organizarmos as atividades produtivas.

Uma sociedade de mercado é um ambiente em que quase tudo está à venda.

Deveríamos nos preocupar com essa tendência por dois motivos. Primeiro, à medida que o dinheiro ganha maior primazia nas sociedades, a riqueza ganha importância.

Quando o dinheiro começa a governar o acesso à educação, à saúde, à influência política, a vida se torna mais difícil para as pessoas desprovidas de posses. Quando o mercado controla tudo, a desigualdade é mais aguda.

Uma segunda razão para que resistamos a definir preços aplicáveis a todas as atividades humanas está em que fazê-lo pode corromper.

Considere o direito de voto. Não permitimos que votos sejam negociados abertamente, ainda que um mercado como esse pudesse ser claramente "eficiente".

Muita gente opta por não usar seu voto. Por que deixar que desperdiçar esses votos? As duas partes da transação se beneficiariam. O melhor argumento contra é que o voto não é exatamente propriedade privada, mas, sim, responsabilidade pública.

É claro que frequentemente discordamos quanto ao que deve ser considerado "corrupto" ou "degradante".

Para decidir se devemos permitir a compra e venda de órgãos humanos para transplante, temos de refletir sobre questões difíceis envolvendo a dignidade humana e a responsabilidade cívica.

São questões controversas, e muitas vezes tentamos evitar debatê-las. Mas isso é um erro. Nossa relutância em nos envolvermos em debate político quanto a questões morais contestadas nos deixou mal preparados para enfrentar uma das questões mais importantes de nossa era: em que casos os mercados servem ao bem comum e em que casos seus preceitos não devem ser aceitos?


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