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Entrevista Marcos Costa

Parques eólicos leiloados em 2012 correm o risco de se tornar inviáveis

NOVO PRESIDENTE DA ALSTOM, UMA DAS GRANDES FORNECEDORAS DE EQUIPAMENTOS DE ENERGIA, DIZ QUE PREÇOS FICARAM BAIXOS DEMAIS

Silvia Costanti/Valor
Marcos Costa, presidente da Alstom Brasil, que atua em geração e transmissão
Marcos Costa, presidente da Alstom Brasil, que atua em geração e transmissão
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO EDITORA DE “MERCADO”

Enquanto o governo planeja novos leilões de energia para este ano, os parques eólicos que venceram a disputa em 2012 correm riscos.

Na avaliação do presidente de uma das principais fornecedoras do setor, a tarifa estabelecida é insuficiente para sustentar os projetos.

"Na nossa percepção de quanto custa o equipamento produzido no Brasil, essa tarifa não fecha as contas", diz Marcos Costa, que assumiu no ano passado a presidência da Alstom do Brasil.

Engenheiro eletricista, ele acredita que a opção do país por hidrelétricas fio d'água (sem grandes reservatórios) e mais usinas eólicas (cuja geração, por depender dos ventos, é intermitente) levará a um crescimento no número de térmicas. "Isso gera outro impacto ambiental, que não está sendo levado em conta."

Embora seja a eletricidade o tema do momento, é do transporte que Costa espera as melhores notícias. A Alstom lidera um consórcio que estuda disputar a licitação do trem-bala e vê no fornecimento de VLTs (uma espécie de bonde moderno) o maior potencial de crescimento.

Ironicamente, o mesmo setor foi o responsável nos últimos anos por más notícias: a empresa foi investigada sob suspeita de subornar funcionários públicos para ganhar contratos -entre eles, o do metrô de SP. A Alstom considera o caso encerrado: "Em 22 de novembro de 2011, a Procuradoria-Geral da Suíça concluiu pela ausência do pagamento de propinas".

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Folha - Como a Alstom, na condição de fornecedora, avaliou o resultado do leilão de energia mais recente?

Marcos Costa - Houve uma demanda reduzidíssima. No caso das eólicas, a oferta foi 28 vezes maior que a demanda. Um desequilíbrio tão grande causa distorções de preço.

Ficou muito baixo?

Extremamente baixo. Não é um preço sustentável. Com esse nível de preço, o setor não vai oferecer a rentabilidade adequada. Para um parque greenfield [um investimento novo, que começa do zero], é uma tarifa absolutamente irreal. O governo pode dizer que é bom pela modicidade tarifária, que o leilão foi um sucesso. É uma forma de ler.

Qual é a contraparte?

O risco é a dificuldade para contratar bens e serviços com preços que deem a taxa de retorno adequado. Se não conseguir, o investidor terá problemas de rentabilidade, de "financiabilidade" do projeto. Não estou dizendo que vai acontecer, mas é o risco.

Na nossa percepção de quanto custa o equipamento produzido no Brasil, essa tarifa não fecha as contas.

Mesmo levando em conta que o custo de capital no Brasil caiu bastante?

Não tem dúvida de que, o custo de capital tendo caído, isso se reflete na tarifa, mas não nesse patamar.

A MP 579 [que mudou regras no setor energético] então não afetou a oferta.

Em termos de apetite de investidores, o leilão sinalizou que eles continuam participando, apesar de todas as incertezas. Mas também não dá para tirar uma conclusão muito abrangente, porque a demanda foi muito pequena.

A falta de demanda agora não prejudica a geração no futuro?

Especificamente neste momento, por causa do volume de térmicas já contratadas, mas principalmente da desaceleração econômica, as distribuidoras estão com um volume de contratação acima do que eles esperavam.

Se o país voltar a crescer, elas farão uma correção nos próximos leilões.

Os grandes apagões recentes mostram que o sistema tem pontos frágeis? Há participação excessiva das térmicas?

A participação de renovável e de térmica hoje é razoavelmente adequada. O problema do sistema é que, quanto mais cresce, mais requer investimento em transmissão, construção de linha, automação e proteção. O próprio ONS diz que falta investimento em volume adequado. Um grande problema é que não se fazem mais usinas com grandes reservatórios.

É uma mudança que veio para ficar?

Esse debate voltou. Em Belo Monte você tem energia média de 4.500 MW, enquanto no projeto original eram 8.000 MW. Perderam-se 3.000 MW para ter menor custo ambiental. Mas será necessário construir outros projetos, termoelétricos ou hidrelétricos, para compensar a perda. Isso gera outro impacto ambiental, que não está sendo levado em conta.

A solução mais adequada, a curto e médio prazo, talvez seja a geração a gás. À medida que tenhamos gás. O que é outra discussão.

Hoje não há gás sobrando para geração de novas térmicas. Pode-se investir em estação de gás natural liquefeito. Carvão no sul do Brasil seria uma alternativa, apesar dos aspectos ambientais. Nuclear é inevitável. Vai voltar a crescer, talvez não hoje, mas daqui a quatro, cinco anos.


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