São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

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Em meio a sua maior crise, zona do euro recebe hoje o 17º integrante

Estônia ingressa no bloco sob perspectiva de estabilidade cambial e fortalecimento da imagem

País báltico, um dos mais pobres na união monetária, vende-se como a "anti-Grécia", com bom histórico fiscal

NATÁLIA PAIVA
DE SÃO PAULO

Em meio a uma forte tempestade, é melhor estar em um grande navio do que em um barquinho amarrado a ele. É a essa imagem que o governo estoniano costuma recorrer para justificar a adesão do país à zona do euro.
A partir de hoje, a Estônia será oficialmente o 17º integrante do bloco -e também um dos mais pobres (seu PIB é 0,15% do total dos países).
Para quem está de fora, a adesão num momento em que o euro luta por sobrevivência causa alguma estranheza. Mas, embora a crise tenha desencadeado um novo debate em torno das virtudes -e até da viabilidade- da união monetária, a Estônia defende que, com o euro, reduzirá o risco cambial da economia, já atrelada a ele.
Aliás, extremamente atrelada: seu regime cambial já é fixado a essa moeda e 90% de seus empréstimos privados e 78% de seu comércio exterior são feitos em euro.
O interesse da Estônia em fazer parte do bloco visa, de um lado, partilha de risco e estabilidade no câmbio; do outro, fortalecimento de sua imagem -o que tanto tem um efeito simbólico sobre a ex-república soviética (aceitação no clube da Europa ocidental) como um prático (o de atrair mais investidores).
"Já podemos testemunhar os efeitos positivos do aumento da confiança industrial e o interesse de investidores em relação ao país. Mantendo os fundamentos econômicos em ordem, esperamos que o desenvolvimento continue", afirmou o ministro das Finanças estoniano, Jürgen Ligi, à Folha.
Para o economista Raul Eamets, da Universidade de Tartu, na Estônia, a entrada na zona do euro fará com que o país "deixe de ser tratado como um "báltico'". Quando há medo de que a frágil Letônia desvalorize sua moeda, diz, os mercados logo tendem, por inércia, a temer que a Estônia faça o mesmo.
"Para mim, o maior argumento para aderir ao euro é confiança, que é o que o país vai obter. O euro é apenas uma ferramenta monetária; o que importa é como o governo lida com dívida, deficit fiscal e inflação. E até agora temos ido muito bem", diz.

"TIGRE BÁLTICO"
A Estônia se vende como a "anti-Grécia", com histórico exemplar em relação aos gastos do governo. Em 2009, seu nível de endividamento foi o menor da União Europeia, e seu deficit fiscal deve seguir bem abaixo de 3% em 2010.
Após o PIB despencar em 2008 (-5,1%) e em 2009 (-13,9%), o país conseguiu voltar a crescer mantendo inflação, deficit fiscal e dívida pública sob controle. Para superar a crise, o governo preferiu corte de gastos (9% do PIB) a desvalorizar a moeda, o que ameaçaria o projeto euro. Ou seja, "optou" por deflação e desemprego.
A Estônia passou a ser chamada de "tigre báltico" devido à rápida passagem de uma economia centralizada a uma de mercado e ao seu impressionante crescimento -via investimento estrangeiro, aumento do crédito e do consumo interno, trabalho barato e produção industrial de baixo valor agregado.
O país tentara aderir ao euro em 2007, mas fora impedido pela inflação alta. E é justamente o medo da escalada dos preços que faz muitos estonianos manterem pé atrás em relação à entrada no bloco. Só 52% apoiam a adesão.


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