São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

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ENTREVISTA ILAN GOLDFAJN

Governo terá de se esforçar para reduzir a inflação

ECONOMISTA-CHEFE DO ITAÚ UNIBANCO PREVÊ ALTA DE 1,5 PONTO DO JURO BÁSICO EM 2011

Eduardo Knapp/Folhapress
Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco

CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

Ilan Goldfajn, 44, economista-chefe do Itaú Unibanco, acredita em aumento do juro básico do país em 1,5 ponto percentual em 2011, para 12,25% ao ano. Na avaliação de Goldfajn, o aperto monetário só poderá ser menor com mais corte dos gastos públicos. A seguir, trechos da entrevista à Folha:

 

Inflação e juros no Brasil
O governo vai ter que fazer força para reduzir, em 2011 e 2012, a inflação que ressurgiu recentemente. E o aumento de juros é necessário.
A inflação deve fechar 2010 em 5,9%. E, à medida que o juro básico (taxa Selic) suba em 2011, esse percentual vai cair para cerca de 5,5% até o fim do ano e 4,5% em 2012.
Para isso, o juro vai ter que aumentar para 12,25% ao ano no fim de 2011, apesar das medidas recentes para contenção do crédito. Hoje, a Selic está em 10,75%.
O juro é o instrumento clássico de controle da inflação. Mas é claro que a intensidade do aumento pode ser menor, dependendo do ajuste fiscal feito pelo novo governo.
Quanto ao PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, projetamos expansão de 7,6% em 2010 e de 4,3% em 2011. Depois, deve ficar na faixa entre 4,5% e 5% por muitos anos.

Ajuste fiscal
Se o ajuste fiscal for mais restritivo em 2011, com maior corte de gastos, isso vai trazer uma alta menor dos juros.
Nossa projeção de aumento de 1,5 ponto percentual da Selic considera um cenário fiscal melhor que o de 2009, mas pior do que a meta.
Acreditamos que o superavit primário, que é o quanto o governo economiza, deverá ficar em 2,5% do PIB em 2011, abaixo da meta cheia, de 3,1%, mas maior que o de 2010, perto de 1,6%. Mas, se chegar mais próximo de 3,1%, pode significar política monetária menos apertada.
É possível alcançar esse percentual, mas será preciso congelar uma parcela muito grande do Orçamento e vai ter muita gente reclamando.
Um começo é o reajuste do salário mínimo de acordo com o estabelecido pela regra, para R$ 540, e não mais.
E há salários de funcionários públicos que o governo tem dito que não vai aumentar.

EUA e Europa
A economia americana deverá passar anos de lentidão.
Algo como uma década perdida -sem recessão, mas com baixo crescimento.
Os EUA vivem uma ansiedade quanto à recuperação da economia, pois o desemprego lá está alto, beirando os 10%, e isso gera uma demanda por ações dos políticos.
Os americanos não estão acostumados a ter tanta gente desempregada, o que provoca o medo de que o país caia em recessão de novo.
Mas observamos que o risco de isso acontecer nos EUA é cada vez menor. Nos próximos anos, o PIB americano deve crescer em torno de 2,5% ao ano.
Já na Europa, serão anos de batalha na questão fiscal, com países como Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia lidando com uma situação que o Brasil viveu no passado, tendo que ajustar gastos, aumentar superavit etc.
Então, não devemos esperar dos países desenvolvidos grandes dinâmicas que puxem o crescimento dos emergentes, como o Brasil.

China
O Brasil vai ter que crescer tanto pelo lado de outros emergentes, como China e Índia, como pela própria demanda doméstica. A China é uma boa bússola para nós: tem tomado medidas para conter a inflação e está tentando desaquecer a economia. Então, os problemas chineses são mais parecidos com os brasileiros; o Brasil, hoje, está muito mais na Ásia do que na América. Claro que uma parte das dúvidas é se a China "erra na mão" para conter o superaquecimento. Uma desaceleração muito acentuada de sua economia afeta o Brasil. Esse é o risco externo que mais teria impacto sobre o Brasil. Mas é baixo. É como viajar de avião: a probabilidade de um acidente é pequena, mas, se ocorre, as consequências são drásticas.

FOLHA.com
Assista à entrevista em vídeo com Goldfajn
www.folha.com.br/mm849313


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