São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011

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ANÁLISE

Exigências desafiam governo a ouvir setor empresarial

CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO

Duas conclusões são possíveis com a lista de exigências da Foxconn. A primeira é que a maioria não é capaz de ser cumprida imediatamente por questões fiscais, legais e até de infraestrutura.
Entre algumas das exigências impossíveis de serem cumpridas por ora está a concessão de um terminal de aeroporto dedicado às mercadorias da Foxconn.
Pela lei brasileira, apenas a Infraero pode operar os terminais. Seria necessário modificar a legislação para que a taiwanesa pudesse ter seu braço aeroportuário, como acontece com empresas como a FedEx nos EUA.
Outro entrave da lista é encontrar um lugar com cabeamento total de fibra óptica para a cidade inteligente.
Já existem cabos de fibra óptica instalados ao longo de diversas rodovias brasileiras e que servem regiões industriais principalmente no Sudeste, como a de Campinas. A tecnologia, porém, está longe da massificação.
O custo para passar só os cabos subterrâneos onde a tecnologia ainda não está presente gira em torno de R$ 120 por metro -imagine num complexo para abrigar 100 mil pessoas.
A segunda conclusão da lista é que o governo foi desafiado a níveis praticamente sem precedentes a atender com agilidade reivindicações do setor empresarial.
A matemática é simples: se o Brasil não tiver condições propícias, a cifra de US$ 12 bilhões -prometida, embora duvidosa- pode aterrissar em algum dos vizinhos.
Se para muitos a lista pode parecer arrogância de investidor, há a esperança de que ela seja o primeiro passo para destravar rapidamente reivindicações feitas há anos.
Os pedidos de concessão privada para terminais aéreos já existem há vários anos. Entre as interessadas estão TAM, Gol e Azul, que ainda não foram ouvidas.
A expectativa da Associação Brasileira de Aviação Geral é que a reivindicação da Foxconn possa colocar a questão de vez na pauta pública e evitar que a Copa do Mundo no Brasil seja vítima das questões estruturais.
Da mesma forma, acredita-se que o documento poderá ser o passaporte para flexibilização de regras alfandegárias e de incentivos fiscais longamente almejada pelos empresários no país.
Vale observar, porém, a forma de construção dos acordos. Representantes da indústria eletrônica já sinalizam ataque se os benefícios forem concedidos apenas para a empresa taiwanesa.
As regras estão na mesa. Resta saber a flexibilidade de ambos os lados.
O maior pesadelo para o país seria repetir o erro de perder uma fábrica de alta tecnologia, como a da Intel, que foi para a Costa Rica nos anos 1990, depois de o Brasil recusar incentivos. Em jogo, estavam R$ 500 milhões. Agora, a cifra é bilionária.


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