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ANÁLISE PECUÁRIA
Preservação ambiental não restringe a produção leiteira
MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O agronegócio brasileiro
vem evoluindo de forma surpreendente nas últimas décadas, permitindo ao país
galgar espaço no mercado
mundial.
Somos os maiores produtores e exportadores de café,
de açúcar e de suco de laranja e os maiores exportadores
de carne de frango, de soja,
de tabaco e de etanol.
São setores do agronegócio brasileiro com alta tecnologia, gestão, produtividade
e qualidade do produto final.
Essa tendência não é diferente na pecuária de leite.
Mas ainda utilizamos extensas áreas de pastagens nativas. Somado a isso, em muitas propriedades a produção
de leite não é a principal atividade econômica.
O bovino sempre foi utilizado para ocupar o espaço
que não é usado pela agricultura. Assim, o produtor possui uma vaquinha para leite
ou um boizinho para carne.
Em decorrência dessas
condições e do baixo nível
tecnológico, a produtividade
média é baixa, com reflexos
negativos sobre a renda dos
produtores.
Com a expansão da agricultura nacional, os concorrentes da pecuária de leite
não são somente os países
exportadores, como os da
União Europeia, a Nova Zelândia ou a Argentina.
Aparecem nesse cenário,
no Brasil, as culturas de
grãos e da cana-de-açúcar
avançando sobre áreas de
pastagens pouco produtivas
e degradadas.
Na última década, ocorreram inúmeras liquidações de
rebanhos leiteiros, principalmente no Estado de São Paulo. Na época, houve a preocupação no setor de que haveria redução da produção leiteira.
Mas o que ocorreu foi a migração do leite para regiões
até então não tradicionais,
como o Centro-Oeste e parte
do Norte.
Felizmente, a evolução da
bovinocultura de leite não é
horizontal, por meio da incorporação de áreas agrícolas ou pela derrubada de matas, mas sim vertical, pela incorporação de tecnologias,
como a recuperação de áreas
degradadas e da fertilidade
do solo.
Também colaboram para
essa evolução o manejo intensivo de pastagens, o confinamento, a utilização de
modernas técnicas reprodutivas e o cruzamento de raças
especializadas.
Isso é comprovado com a
crescente produção nacional, de cerca de 4% ao ano,
enquanto a área de pastagens diminuiu cerca de 3%
na última década.
O resultado dessa especialização será a produção eficiente de leite em áreas menores, disponibilizando parte das pastagens para a agricultura e reduzindo o avanço
da pecuária sobre áreas de
vegetação nativa.
Isso virá a facilitar o atendimento das exigências legais na área ambiental sem
comprometer a renda e a viabilidade da propriedade rural no país.
MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI é médico
veterinário, doutor e supervisor do sistema
de leite da Embrapa Pecuária Sudeste.
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