São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

cifras & letras

CRÍTICA

Estereótipos prejudicam livro sobre 'novo 3º Mundo'

Michael Lewis se sai melhor quando conta bastidores da crise europeia


O AUTOR VARIA AS FONTES COMUNS, ENTREVISTANDO, POR EXEMPLO, MONGES GREGOS QUE AJUDARAM A EXPOR A CRISE

Nikitas Kotsiaris - 24.nov.2008/EFE
Mosteiro de Vatopaidi, Grécia, onde vivem monges que indiretamente contribuíram para expor problemas do país

PAULA LEITE
EDITORA-ASSISTENTE DE MERCADO

Depois de vender 1 milhão de cópias do ótimo "A Jogada do Século", sobre investidores que previram a crise do "subprime" nos EUA, Michael Lewis deixou Wall Street e saiu pelo mundo tentando entender o que aconteceu desde 2008 com países como Grécia, Islândia e Irlanda.
"Boomerang" é uma coleção de ensaios pouco ligados entre si, em que Lewis viaja a alguns países e tenta pintar um quadro da economia daqueles os quais ele chama de "novo Terceiro Mundo".
O livro ganha pontos pela temperatura: os capítulos sobre Grécia e Alemanha ajudam a entender por que, nos últimos meses, o primeiro país enfrenta dificuldade quase diária para manter sua solvência, dependendo de resgates do segundo.
Mas parece estranho incluir a Alemanha como um dos países do "novo Terceiro Mundo"; mesmo com todas as dificuldades que a zona do euro enfrenta, ela ainda não está perto disso.
Já o último capítulo, sobre cidades dos EUA que se endividaram e hoje estão falidas, sem dinheiro para pagar policiais e bombeiros, é bastante interessante; o assunto mereceria publicação inteiro.
No entanto, o trecho fica deslocado em um livro que, de resto, tem foco na Europa e em seus problemas.
"Boomerang" tem trechos inspirados, como o que explica como o socorro a países como a Grécia é, na verdade, um resgate dos grandes bancos alemães que compraram essa dívida podre.

MONGES
O autor varia as fontes usuais dos jornalistas de economia, entrevistando, por exemplo, monges gregos de Vatopaidi que, meio sem querer, ajudaram a expor a quebradeira.
Isso porque os monges, donos de terras em várias regiões do país, obtiveram uma benesse do governo que valorizou muito um de seus terrenos. O caso veio a público e, apesar de não ter sido provado que houve corrupção ou favorecimento, a denúncia derrubou o governo grego.
O governo seguinte, de oposição, foi quem revelou que as contas do país estavam muito piores do que indicavam os dados oficiais até aquele momento.
O principal problema de "Boomerang", no entanto, é que o autor faz, a cada capítulo, uma ligação entre supostos traços de personalidade dos cidadãos de cada país e sua ruína financeira.
Por exemplo, na visão de Lewis, foram as características do povo grego -segundo ele sem noção de coletividade e acostumado a culpar os outros por seus problemas- que resultaram na situação atual do país.
Esse abuso de estereótipos grosseiros pouco acrescenta ao leitor interessado em entender meandros do sistema financeiro internacional e a ligação desse sistema com os governos de países europeus.
É curioso que Lewis recorra a esse expediente, já que, quando escreve sobre aquilo que entende, ou seja, o sistema financeiro, o autor é didático e esclarecedor.

BOOMERANG: TRAVELS IN THE NEW THIRD WORLD
Michael Lewis
EDITORA
W.W. Norton & Company
QUANTO US$ 25,95 (224 págs.)
AVALIAÇÃO Regular


Texto Anterior: Brasil está atrasado em economia de energia
Próximo Texto: Bibliográfico
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.