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MINHA HISTÓRIA ANTÔNIO FORTES, 73
O homem que não virou suco
Eu falei que quero ser o último dos irmãos a sair da citricultura , vou lutar. Mas está difícil
Edson Silva/Folhapress
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Antônio Fortes na fazenda Cercadinho, em Casa Branca (SP)
RESUMO
Antônio Fortes é um dos maiores produtores pessoas físicas de
laranja do país. Sob seu
comando estão 250 mil pés
de laranja e cerca de 700
hectares em três fazendas
no interior de São Paulo.
A produção anual própria chega a 1 milhão de
caixas, mas ainda compra
e revende outro milhão.
Grande parte do que
Fortes produz é distribuído em supermercados.
Apenas 30% vai para a indústria de suco de laranja.
Ele critica o controle sob
o preço exercido pelas indústrias, além do fato de
que o produtor precisa
bancar o frete das frutas.
(...)Depoimento a
GRAZIELLE SCHNEIDER
ENVIADA ESPECIAL A LIMEIRA (SP)
Meu pai era espanhol e
veio para o Brasil para trabalhar em cafezal em 1913.
Em 1937, ele comprou uma
propriedade pequena. Plantava cebola e cereais, de laranja tinha um tantinho só.
Com o tempo, a produção aumentou e lá por 1942 passou
a vender para exportação.
Aí apareceram uns médicos e engenheiros que colocaram na nossa cabeça que
éramos bastante gente, que o
sítio era pequeno e que devíamos vender a laranja em
São Paulo para crescer.
Então em 1962 compramos
uma banca no mercadão de
São Paulo. Nós éramos oito
irmãos, seis homens.
Montamos um barracão
no sítio do meu pai e trabalhamos lá até 1968. Depois
compramos uma propriedade em Conchal, um pedacinho de 60 alqueires.
Em 1969 nós nos mudamos para Limeira e compramos um barracão grande.
Foi só em 2000 que nos separamos. Cada um resolveu
pegar os filhos para trabalhar. Mas foi uma divisão perfeita, sorteamos as fazendas
e cada um saiu com uma.
Os irmãos Fortes eram conhecidos pela qualidade.
Quando comecei a trabalhar
com meu pai, ainda criança,
a laranja era preta, feia.
Assim que começamos a
cuidar, depois de uns cinco
anos, a gente já tinha a melhor laranja de São Paulo. Ganhamos até prêmio, em 1978.
Garanto a qualidade até
hoje cuidando com um agrônomo. Ele faz análise da terra, da folha, faz adubação
certinha e pulveriza muito.
Também a nossa genética
é boa. A minha lima, eu peguei um galhinho, enxertei e
fiz uma variedade que hoje é
a melhor do Estado.
APOSENTADORIA?
Eu sou separado da primeira mulher há quase 30
anos. Casei de novo, mas nós
trabalhamos juntos, a primeira mulher é minha sócia e
a segunda ajuda na empresa.
Nem todos os meus filhos
trabalham comigo, só dois.
Mas não querem saber de responsabilidade, de trabalhar
no fim de semana. E vou me
aposentar de que jeito?
Eu levanto todo dia às 5h,
há 50 anos. Venho aqui ao
barracão e, lá pelas 6h30,
desço para as fazendas.
Pego o resultado da venda
de São Paulo, vejo quem vendeu mais, quem vendeu menos e decido para onde mandar mais laranja e para onde
mandar menos. Isso é todo
dia, não tenho folga nunca.
Vendemos para supermercado, e lá muda o preço todo
dia. Então você está entregando e aparece outro vendendo mais barato, aí ligam,
tem que acertar preço.
MERCADO
O mercado foi bom para a
indústria de suco em 2010,
ela pagou bem. Então achei
que o de fruta ia surpreender.
Mas não, ele enganou.
Tem muita gente mandando mercadoria ruim. E, depois do cruzado para cá, eles
vendem a laranja feia mais
barato, e aí é duro pegar um
preço bom pela fruta boa.
Eu também acho que choveu muito na época de seca,
adiantando a maturação. Laranja que ia colher em fevereiro, tiramos em dezembro.
Agora, em janeiro e fevereiro, vai faltar laranja. Até
estou indo para Sergipe para
ver se pego algo e trago de lá.
Além disso, apareceu esse
monte de doença. Tem o
greening , que está comendo o pomar à vontade. Ele
vem de longe, então a gente
brinca que essa doença que
pula a cerca ninguém segura, porque as outras têm que
passar pelo portão.
O nosso tratamento está
dando certo. As árvores
doentes não chegam a 1%,
enquanto por aí já tem fazenda com 25%, 30%.
Essa praga apareceu em
2004. A laranja fica miúda e
não dá semente, dá pra ver
de longe. Fica um pé meio
amareladinho, a laranjinha
torta, pequena, você corta e
ela não tem semente. Em
dois anos ou três, se não
cortar, morre o pé inteiro.
Já para 2011, a gente não
tem uma expectativa de safra. Faltou chuva e a florada
está muito variada, num lugar deu cedo demais, noutro deu muito tarde. Até
agora nós não sabemos o
que temos na mão.
O preço deve aumentar,
mas depende da indústria.
Se eles pagam bem, melhora. Se eles pagam pouco, o
pessoal vai para o nosso
mercado, e aí cai o preço.
GLOSSÁRIO
Greening
Doença causada por
bactéria, afeta a laranja, o limão
e a tangerina. É transmitida por
meio de mudas infectadas ou de
insetos vetores.
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