São Paulo, domingo, 02 de janeiro de 2011

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ENTREVISTA ROBERTO PADOVANI

Brasil precisa dar mais atenção à competitividade

ESTRATEGISTA-CHEFE DO WESTLB DIZ QUE PAÍS TEM QUE GARANTIR SUA CAPACIDADE DE DISPUTAR MERCADO MESMO COM CÂMBIO RUIM
CAROLINA MATOS
DE SÃO PAULO

Roberto Padovani, 44, diz que a guerra cambial, tema muito debatido em 2010, não deve ser assunto para 2011.
O estrategista-chefe do Banco WestLB ressalta que a preocupação no país precisa ser assegurar as condições de competitividade, independentemente do câmbio. A seguir, trechos da entrevista à Folha:

 

Custos de produção
Considerando o real mais valorizado, o Brasil precisa dar mais atenção às condições gerais de competitividade.
O que importa para o país é reduzir os custos de produção, para ser competitivo sem tanta dependência do câmbio. E isso passa pela urgência de marcos regulatórios para atrair investimentos privados em infraestrutura.
Hoje, temos um custo de logística muito alto. Acredito que a agenda para a implementação dos marcos necessários seja, sim, apresentada em 2011, embora os impactos demorem mais a aparecer, já que as obras em infraestrutura levam tempo.
O ajuste fiscal também é importante, porque abre espaço para o investimento público -com menos gastos com funcionários.

Políticas cambiais
A necessidade de políticas cambiais de curto prazo nos países emergentes, como o Brasil, para conter a alta da moeda local é uma discussão que tende a perder força. Isso porque a economia americana, assim como a global, deve seguir em recuperação, ainda que lenta.
O crescimento mundial deve ficar em 3,8% em 2011 (de 4,5% em 2010). Já os EUA devem ter expansão próxima de 2,5% (e de 1,8% em 2010).
Os estímulos econômicos dados pelo governo americano tendem a ser cada vez menores. E o dinheiro internacional vai voltando para os EUA, proporcionando um dólar com um pouco mais de valorização em boa parte de 2011 em relação às principais moedas internacionais.
Esse dólar mais alto no ano que vem deve até moderar a demanda por commodities, que ficam mais caras para quem compra em moeda estrangeira. Nossa projeção é que as commodities subam, em média, 7% em 2011. É quase a metade da alta esperada para o fechamento de 2010, de 13%.
Na comparação com o real, o dólar fica estável na casa de R$ 1,70 no primeiro trimestre de 2011 e volta a cair um pouco no segundo, podendo fechar o ano em R$ 1,60.

EUA e China
EUA e China têm demandas legítimas em que se baseiam as decisões políticas.
O primeiro sofre a angústia de ter que fazer a economia andar. E o segundo, extremamente populoso, precisa desesperadamente manter o emprego das pessoas.
O resto do mundo sente as consequências dessa briga, mas tem pouco a fazer.
É natural que, no curto prazo, os emergentes adotem políticas para barrar fluxos de recursos externos e tentar evitar uma alta de suas moedas locais, mas não deve ser feito nada muito radical.

Europa
A Europa deve crescer na casa de 1,5% em 2011 -também uma expansão pequena e um pouco menor que a prevista para 2010, de 1,7%.
Não poderia ser diferente; os governos estão muito endividados e vão ter que começar a pagar essa conta. O corte de gastos é uma ferramenta para equilibrar as contas, junto com o aumento de impostos.
Mas, considerando as perspectivas para os EUA que já comentamos, creio que esteja descartada uma segunda recessão global.

PIB e inflação do Brasil
Quanto ao Brasil, a economia doméstica deve crescer na casa de 4,5% em 2011. É um ritmo menor que o projetado para 2010 (7,5%), porque os estímulos vão ser menores.
Mas acredito no ajuste fiscal. Creio que o novo governo vá reduzir o ritmo de crescimento dos gastos.
A inflação, considerando que não haja uma alta expressiva das commodities em 2011, como já falamos, estará mais perto de 5%. Em 2010, deve ficar por volta de 5,7%.
Mas o BC deu sinais, no relatório de inflação de dezembro, de que está menos disposto a correr riscos. Assim, creio em aumento de 1,5 ponto percentual do juro básico em 2011, começando com alta de 0,5 ponto em janeiro.

FOLHA.com
Assista à entrevista em vídeo com Padovani
www.folha.com.br/mm849312


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