São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

FOCO

Indicação de Tito revolta sindicato canadense que o enfrentou em greve

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Na pequena Sudbury, cidade do Canadá que há mais de um século se dedica à mineração de níquel -operação hoje controlada pela Vale-, o sindicato que representa os mineiros locais não entendeu nem apreciou a indicação de Tito Martins para substituir Roger Agnelli no comando da empresa.
"Pergunto-me se o Brasil vê Tito como herói", disse à Folha Patrick Veinot, vice-presidente do braço local do forte sindicato internacional Metalúrgicos Unidos (USW).
"Ele chegou e tivemos três greves. Não temos boa opinião dele e não posso imaginar quem tenha. O que veem no Brasil, um homem que quebrou as greves e venceu? O recompensam?"
Veinot diz que, em seus 22 anos na cidade, nunca viu a moral dos trabalhadores tão baixa. "Não vemos a história das greves, uma das quais durou um ano, os danos às operações e às minas, a destruição do relacionamento com os empregados ou a montanha de dinheiro gasta com advogados como um sucesso. Mas ninguém aqui vai parar de resistir."
O discurso mostra que a animosidade continua em níveis altíssimos. Quando visitou Sudbury no ano passado, a Folha encontrou adesivos com palavrões contra a empresa, anedotas críticas e um ódio arraigado.
A Vale comprou a Inco, que controla as minas em Sudbury, em 2006. A cidade de 150 mil habitantes, a 380 km de Toronto, viu sua rotina mudar. A Vale quis renegociar alguns contratos em condições diferentes de bônus e aposentadorias.
"Não sei se Tito será pior, mas ele parecia bem satisfeito em seguir o que Roger mandava", disse Veinot. "Pode ser que a indicação tenha acalmado o pessoal da Vale no Brasil. Mas a experiência dele no Canadá foi terrível. [O estilo agressivo de liderança] é como uma religião pra essa gente."
A fala é corroborada por mineiros como Craigh Thompson, 38, um dos que até meados do ano passado faziam piquete diariamente contra a Vale. "Confiamos em Tito? Não. Acreditamos no que ele diz? Não. Para nós ele e Agnelli são iguais, não vai melhorar nada."


Texto Anterior: Alvo do governo tem ligação com tucanos
Próximo Texto: Aécio articula para levar Agnelli à Cemig
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.