São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011

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ANÁLISE AGRONEGÓCIO

Tendência e sazonalidade no preço do álcool combustível brasileiro


O PESO DO ÁLCOOL NOS ÍNDICES DE PREÇO AINDA REFLETE PESQUISAS REALIZADAS EM PERÍODOS EM QUE OS AUTOMÓVEIS FLEX AINDA NÃO ERAM O PADRÃO


PAULO PICCHETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em artigo na Folha do último sábado ("Medidas para repor estoques já deveriam ter sido tomadas") chamou-se a atenção para o descompasso entre oferta e demanda do álcool combustível, que teve como consequência recente uma grande elevação dos preços ao consumidor.
Parte desse problema diz respeito a uma tendência que se caracteriza ao longo de anos, e que mostra o potencial de produção crescendo abaixo do consumo, puxado pelo estabelecimento dos carros flex como padrão de mercado.
Outra dimensão da questão, que queremos analisar aqui, é o comportamento sazonal: as variações mensais sistemáticas que ocorrem todos os anos, de forma independente da tendência e dos problemas de curto prazo.
Um modelo estatístico é capaz de isolar esses efeitos -o de tendência de longo prazo, do comportamento sazonal e dos choques de curto prazo derivados de fatores imprevisíveis, principalmente climáticos, que afetam a produtividade da cana-de-açúcar.
Os resultados desse modelo aplicado à série histórica do preço do álcool medido pelo Índice de Preços ao Produtor Ampliado da Fundação Getulio Vargas (IPPA/ FGV) mostram um comportamento sazonal claro, com os valores máximos nos meses de novembro (aumentos de 3,2%), e os mínimos nos meses de abril (quedas de 4,2%).
Essas variações são reproduzidas com um pequeno atraso no varejo -medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S/ FGV)-, onde os valores máximos acontecem nos meses de janeiro (3,5%) e os mínimos nos meses de junho (quedas de 4,4%).
Isso não significa que devemos esperar exatamente essas variações em cada um dos meses ao longo dos anos, já que outros fatores influenciam o preço, tal como vem acontecendo em 2011, quando o aumento do álcool para o consumidor chegou a mais de 9% em março.
Esse é um dos exemplos nos quais fatores climáticos imprevisíveis (excesso de chuvas) afastam os valores de um período específico da sua média sazonal.
Entretanto, a média sazonal é uma informação importante que permite um planejamento mínimo voltado para a formação de mecanismos que podem suavizar a variação dos preços, tais como a formação de estoques.
Isso é desejável tanto do ponto de vista do impacto direto para o consumidor quanto dos efeitos macroeconômicos.
O peso do álcool combustível nos diferentes índices de preço ao consumidor existentes hoje em dia no Brasil ainda reflete a realidade retratada por pesquisas de orçamentos familiares realizadas em períodos em que os automóveis flex ainda não eram o padrão de mercado.
Essas pesquisas já foram atualizadas, e a revisão dos pesos certamente dará uma importância muito maior para o álcool combustível, fazendo com que a volatilidade desses preços seja transmitida para os índices como um todo.

PAULO PICCHETTI, 48, doutor em economia pela Universidade de Illinois, é professor da EESP/FGV (Fundação Getulio Vargas) e coordenador do IPC-S/Ibre/FGV).


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