São Paulo, sábado, 02 de julho de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE ENERGIA Políticas focadas no curto prazo podem prejudicar os investimentos no etanol
GERALDO BARROS ESPECIAL PARA A FOLHA Sob a ótica do longo prazo, a performance do setor sucroalcooleiro é bastante positiva. Ao livrar-se das históricas amarras intervencionistas, o setor pôde, a partir dos anos 1990, desenvolver-se de forma mais harmoniosa nas relações entre fornecedores de cana e indústrias, assim como entre capital e trabalho, fontes de repetidos conflitos no passado. O setor atende às demandas interna e externa de açúcar a preços decrescentes, contribuindo para o país tanto do ponto de vista alimentar como de divisas. Quanto ao etanol, é notável sua contribuição para uma matriz energética brasileira mais limpa. A produtividade agrícola e industrial -em produção de etanol por hectare de cana- duplicou de 1970 para cá. Com isso, hoje o preço real do etanol é cerca de 30% a 40% do daquela década. O preço do açúcar também caiu para menos da metade. Ambos procedem da mesma matéria-prima, de modo que observa-se razoável correlação entre seus preços. O mercado do açúcar guarda fortes laços com o setor externo, de sorte que os preços internos refletem de perto não somente as condições de oferta e de demanda globais, mas também os choques macroeconômicos decorrentes do crescimento mundial acelerado e de um inédito excesso de liquidez. O açúcar tem sido uma commodity a mais no conjunto formado por alimentos, energéticos, metais e minérios, em cujas Bolsas os fundos que capturam essa liquidez fazem operações. Quanto ao etanol, seu preço acompanha as idas e vindas do açúcar, mas de uma forma bem mais suave: em média, apenas 50% das oscilações do preço do açúcar passam para o do etanol. No balanço dos últimos 15 anos, a relação de preços entre etanol e açúcar caiu cerca de 60%. Ou seja, o barateamento do etanol demonstra também expressiva flexibilidade entre esses preços. Como no Brasil o preço da gasolina tem sido fixado prolongadamente considerando menos o mercado e mais seu impacto inflacionário, a distorção é passada ao etanol, cuja produção acaba desestimulada, num momento em que novos investimentos tornam-se cruciais. Some-se a isso o risco de diagnóstico impróprio do governo o leve a tentar sanar problemas estacionais decorrentes de insuficiência de armazenamento com medidas que inibam ainda mais o investimento. É o que se passa quando se tenta forçar um aumento de produção de etanol punindo a produção e a exportação de açúcar. Do mesmo modo, se a planejada expansão da Petrobras chegar ao ponto de influenciar os preços do etanol, a experiência do que acontece com a gasolina pode aumentar as incertezas e também deslocar potenciais investidores privados. GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP. Texto Anterior: Empresa investe em defensivos novos para cana Próximo Texto: Petróleo: ANP nega pedido da Petrobras de divisão do campo de Lula em dois Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |