São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

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Petrobras tem falhas de governança, diz grupo britânico

Gestora aponta "falta de transparência" e defende publicidade do laudo de avaliação sobre preço do barril

TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Ativista global dos direitos de acionistas minoritários, a gestora britânica F&C exige que a Petrobras abra o laudo da avaliação para o mercado avaliar a capitalização, como a estatal anunciou ontem.
Para a F&C, há uma série de conflitos de interesse, que deveriam ser melhor conduzidos. "Falta transparência", disse Pat Tomaino, analista de governança da gestora.
Em 2008, a F&C liderou um grupo de 11 investidores globais que contestou na CVM o tratamento dado nas operações de fusão, quando os minoritários receberam menos que os controladores por suas ações. Leia trechos da entrevista por e-mail.

 

Folha - Qual é a maior queixa dos minoritários globais?
Pat Tomaino -
Desde o começo das negociações, a F&C tem se preocupado com o conflito de interesse entre os gestores da Petrobras e o seu acionista controlador, o governo brasileiro.
Nós insistimos que a companhia tomasse passos adicionais para garantir a igualdade de todos no processo. Nós ficamos decepcionados quando os minoritários foram forçados a votar sobre a capitalização em junho, antes de qualquer informação sobre o preço do petróleo.
A capitalização será positiva para a Petrobras, mas está sendo conduzida de forma inapropriada do ponto de vista da governança corporativa. A transparência é nossa maior preocupação.

Há algum pedido particular?
Nós queremos que a Petrobras publique o resultado da avaliação independente contratada. Uma abertura completa melhoraria as possibilidades de negociação mais justa e ajudaria a Petrobras e o governo a acordarem preço mais razoável ao mercado.

O tratamento aos minoritários pode prejudicar o mercado de capitais brasileiro?
Como investidor global, a F&C percebe que estruturas de poder concentrado e participações do governo são fatos corriqueiros do ambiente de mercado. E isso envolve riscos para os minoritários.
No entanto, nós acreditamos que é uma decisão dos gestores que estão nessa situação dirigirem práticas de boa governança para preservar a confiança dos investidores e o patrimônio de todos os acionistas.

Como as incertezas em relação à capitalização prejudicaram as ações da Petrobras?
A Petrobras é olhada de perto pelos investidores de todo o mundo. É vista como uma líder de mercado e é muito importante estrategicamente. Por esse motivo, boa governança e transparência impactam a avaliação dos investidores.

O que a Petrobras deveria fazer para aumentar a confiança e o conforto do mercado em relação à capitalização?
Adicionalmente à abertura do laudo de avaliação independente, a Pebrobras deveria fazer mudanças para equilibrar os interesses dos acionistas minoritários e majoritários no futuro.
Nós encorajamos a companhia a fortalecer seu conselho de administração com um número maior de conselheiros independentes, tanto dos gestores como do governo brasileiro.
Essas medidas dariam uma segurança adicional para os investidores globais, que saberiam que a visão dos minoritários seria colocada no conselho e que conflitos potenciais seriam monitorados efetivamente.


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