São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2011

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Fraude no Galeão chega a R$ 150 milhões

Quadrilha com servidores da Receita e policiais federais impedia fiscalização no aeroporto internacional do Rio

Grupo recebia propinas de passageiros que não pagavam por produtos importados; malas eram liberadas por R$ 300


MARCO ANTÔNIO MARTINS
DO RIO

Uma quadrilha que atuava no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, desde 2009, lesou a Receita Federal em R$ 148 milhões.
O grupo, que tinha entre seus integrantes servidores da Receita e policiais federais, impedia que mercadorias trazida ao país fossem fiscalizadas pela alfândega.
Ontem policiais federais e auditores da Receita percorreram 39 endereços no Rio, em Brasília e em Salvador em busca de informações.
De acordo com as investigações, além de impedir a fiscalização de mercadorias, a quadrilha costumava retirar da fila da alfândega empresários que chegavam do exterior trazendo bens que deveriam pagar impostos. Em troca, recebiam propinas.
Outra forma de fraude mostra que produtos, principalmente de informática, eram enviados pelos correios para endereços fictícios e com declaração de conteúdo diferente do real. O endereço fictício permitia a identificação da carga, que era retirada antes da fiscalização.
As investigações começaram em 22 de outubro de 2009. Na ocasião, o policial federal Adir Meireles recebeu mensagens em seu celular.
Todas relatavam a entrada ilegal de mercadorias. Uma chamou a atenção: "amanhã chegará no Delta 061 às 9:19. A pescaria vai ser boa".
A informação se referia ao voo 061 da Delta Airlines, vindo de Nova York. Em bagagens foram encontrados equipamentos de informática avaliados em R$ 1 milhão.
No voo estava o caminhoneiro Fernando Duarte Santiago Rodrigues, que, segundo a Polícia Federal, seria o articulador do esquema, ao lado da sua mulher, Elizete.
Em dois anos, o morador de Teresópolis fez cem viagens internacionais. Seu advogado, Roberto Lippi Rodrigues, não respondeu às ligações feitas pela Folha.
De acordo com as investigações, oito pessoas traziam ao país eletrônicos e mercadorias encomendadas.
Contavam com o apoio das servidoras da Receita Tânia Mara Seidl e Rosângela Couto. Os produtos só chegavam nos dias em que a dupla estivesse de plantão. Elas receberiam R$ 300 para cada mala liberada de fiscalização.
Os policiais seguiram e fotografaram as servidoras. Em um dos casos flagraram Tânia se encontrando com Dário Machado Cordeiro, auxiliar de serviços gerais da empresa Angel's, em um bar na Ilha do Governador.
Segundo os investigadores, Cordeiro teria entregado um envelope para Tânia em que estaria o dinheiro da propina pela liberação das malas.
A Angel's afirmou que ele não trabalha na empresa. Cordeiro e os demais suspeitos não foram encontrados para comentar as denúncias.
Ninguém foi preso, mas, por determinação da Justiça, todos estão proibidos de deixar o país.


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