São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2011

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RODOLFO LANDIM

Nem tudo são flores


Uma notícia ruim é que até agora a ANP não marcou a data da nova rodada de licitação de blocos

O SETOR do petróleo viveu boas notícias nas últimas semanas. Depois de algumas idas e vindas, a Petrobras aprovou seu plano de investimentos para os próximos cinco anos. Valeu a pena esperar.
A primeira boa constatação é que a empresa reforçará a aplicação de recursos na sua área mais lucrativa, a de exploração e produção, como também dará maior prioridade às atividades no país.
Serão também reduzidos os investimentos nas áreas de gás e energia e abastecimento, notadamente na construção de novas refinarias, onde os retornos esperados seriam bem menores.
Foram mudanças ainda um tanto tímidas, algo até certo ponto compreensível, já que não é mesmo fácil modificar abruptamente o rumo de um plano de investimentos tão grande e com alto nível de comprometimento. Mas, certamente, foi uma ação na direção correta.
Outra importante decisão, e que é digna de aplauso, está ligada à adoção de desinvestimentos, ou seja, a venda de participações em ativos de baixa rentabilidade e/ou baixo alinhamento estratégico com as atividades centrais da empresa.
As empresas estatais têm, historicamente, demonstrado muito mais interesse e apetite para entrar em novos negócios do que para se desfazer de antigos, por piores que possam ser. A Petrobras nunca foi exceção, e a simples disposição de colocar o assunto em discussão pode até ser considerada como uma quebra de tabu, apesar de haver ainda uma longa distância entre a intenção declarada e o gesto.
Mas também ocorreram más notícias. Em abril, saiu uma resolução do CNPE favorável à ocorrência da 11ª Rodada de Licitação de blocos exploratórios. Na época, o ministro de Minas e Energia veio a público noticiar que o leilão se realizaria em setembro, com a oferta de 174 blocos, inclusive indicando as bacias onde eles estariam localizados.
Estamos em setembro e até agora a ANP ainda nem marcou a data do certame. Pior, parece ter jogado a toalha em relação à sua realização ainda em 2011, ao comunicar que, mesmo que receba a autorização para deflagrar o processo a partir de agora, não terá mais tempo de fazê-lo neste ano. A notícia é ruim sob vários aspectos.
Em primeiro lugar, sempre causa má impressão a palavra descumprida, até mesmo vinda de um governo em que uma das principais características tem sido o compromisso com a busca da correção na condução da coisa pública, sem pirotecnias ou agendas não declaradas.
Depois, porque completaremos três anos sem leilões, algo suficiente para demonstrar a menor prioridade com um processo vitorioso e responsável pela enorme criação de empregos e de riqueza no país.
Além disso, não podemos esquecer que, a partir das sinalizações emitidas pelo MME, as companhias do setor se mobilizaram. Foram contratados mais profissionais, adquiridos os caríssimos direitos de uso de dados geofísicos, softwares de interpretação -em suma, investiram-se muitos recursos para que a melhor preparação possível fosse obtida para o processo competitivo que se vislumbrava.
Os constantes adiamentos que vêm ocorrendo nos últimos anos têm trazido não só prejuízos, mas também frustração a cada constatação de alarme falso. Até quando o fôlego dos que acreditaram irá durar?
A falta de leilões nos últimos anos pode estar sendo influenciada pela conhecida, mas não declarada, posição da Petrobras sobre o assunto.
Apesar de em algumas bacias sedimentares ela já começar a ter escassez de áreas para explorar, no contexto geral ainda há muito esforço exploratório a ser feito. Isso será ampliado quando ocorrer o primeiro leilão do pré-sal e, pelos altos valores de bônus de assinatura esperados, poderá haver significativo impacto no caixa da empresa.
No entanto, isso não deverá ser nem de longe o caso da 11ª Rodada, onde os compromissos assumidos provavelmente serão substancialmente menores.
A Petrobras é e continuará sendo a mola mestra da indústria do petróleo no país, mas existe vida no setor fora dela que também tem dado sua contribuição ao Brasil e que merece mais cuidado.

RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro-civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Kátia Abreu


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